sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016


12 de fevereiro de 2016 | N° 18443 
MARCOS PIANGERS

Cuide da sua própria vida


Minha mãe tem problemas de locomoção por conta de um acidente em 2010. Ela esperava um táxi esses dias em um ponto e quando o carro chegou um jovem simplesmente furou a fila e pegou o táxi da minha mãe. Ao ouvir os protestos das pessoas próximas, o jovem gritou: “Por que vocês não cuidam da vida de vocês?”.

Um amigo estava na fila de 10 itens em um supermercado quando percebeu que o cliente a sua frente, um aparente membro da classe média alta, passava mais de 10 itens na sua compra de quinta-feira à noite. Meu amigo reclamou. O aparente membro da classe média alta brasileira respondeu: “Por que você não cuida da sua própria vida?”.

Existe uma conta de Twitter que posta apenas carros em estacionamentos ocupando duas vagas. Existem donos de cachorros que não recolhem o cocô do meio da calçada. Existem pessoas que destratam garçons. Existem motoristas que estacionam em vagas de deficientes só pra resolver uma coisa rapidinho e já volto. Todos eles, quando confrontados, dirão: “Por que você não cuida da sua própria vida?”.

Essa é a minha vida. O que eu quero que você entenda é que essa é a minha própria vida. O cocô do seu cachorro, o atendimento preferencial, os 10 itens no supermercado, a vaga de estacionamento, o respeito pelos mais velhos. Essa é a minha própria vida. Essa não é a sua vida, esse não é apenas problema seu. Isso é meu problema, porque faz parte da minha vida também.

Nós somos esse povo que celebra o jeitinho brasileiro, essa nação que idolatra os impunes, que comemora a malandragem. Mas existe uma relação entre o cara que dá jeitinho e o cara que nos rouba o celular. Ambos acreditam que nunca serão punidos. Ambos confiam na regra do “vai cuidar da sua vida”. Só que, meus amigos, esta é a nossa vida. E é dela que temos que cuidar. Porque é a única que temos.

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