Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 21 de janeiro de 2012
22 de janeiro de 2012 | N° 16955
VERISSIMO
Marilena Chauí
Ela era bonita, mas também tinha curiosidade intelectual
– Oi. – Oi.
– Desculpe. É que nós vimos você sentada aqui sozinha...
– Estou esperando meu namorado.
– Eu posso falar com você até ele chegar?
– Falar? – É. Só conversar. Não é paquera, juro.
– Bom...
– Eu estou naquela mesa ali, com aquela turma. Nós estávamos tentando decidir se você é modelo ou atriz. Metade aposta que você é modelo, metade aposta que você é atriz.
– Não sou nem uma coisa nem outra.
– É só bonita. – Só bonita, não. Eu trabalho. Num escritório de advocacia.
– Ah, é advogada? – Não. Faço trabalho administrativo.
– Veja você. Quando a gente vê uma mulher extremamente bonita, como é o seu caso, logo conclui que ela deve viver de explorar sua beleza. Que se não fizer isso está desperdiçando sua beleza. Ou sonegando sua beleza do público. O que não deixa de ser uma forma de preconceito. A mulher pode ser bonita sem fins lucrativos. Pode ser bonita de graça.
– Você, como apostou? – Hein?
– Você: apostou que eu era atriz ou modelo?
– Pois você não vai acreditar. Fui o único que destoei dos dois lados. Disse: aquela ali é uma intelectual.
– Não sou não.
– Certo. Não digo uma escritora, uma pesquisadora, uma estudante de antropologia social... Mas há algo de... de... espiritual na sua beleza. Pensei: ela pode não abrir um livro...
– Gosto de livro de vampiro.
– Pois então. Ela pode só ler livro de vampiro e ao mesmo tempo ter uma mente superior. Notei isso de longe. Vim aqui com a missão de descobrir se você é modelo ou atriz e vi que eu é que tinha razão.
– Você ganhou a aposta.
– É... Não vou precisar pagar o chope... Se eles acreditarem em mim, claro.
– Como, se eles acreditarem?
– Podem não acreditar. Achar que eu estou inventando para ganhar a aposta. Que você não tem nada de espiritual. E nenhuma curiosidade intelectual.
– Como eu posso ajudar?
– Vamos fazer o seguinte. Hoje, às 10h, tem uma entrevista com a Marilena Chauí na TV Cultura. Eu posso, lá da outra mesa, lembrar você da entrevista e você faz um sinal de oquei. Oquei?
– Combinado.
Ele volta para a mesa da turma e diz:
– Está no papo. – O quê?!
– Dez horas no apartamento dela.
– Você está brincando...
– Eu não apostei que conseguia?
E para ela, na outra mesa:
– Dez horas! Não esquece!
– E ela faz um sinal de oquei.
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