sábado, 14 de janeiro de 2012



15 de janeiro de 2012 | N° 16948
VERISSIMO


Dilma vai às compras

Dilma deu um tapa na mesa.

– Não é possível. Até o iogurte está ruim!

Não era a primeira vez que a presidente explodia assim, no café da manhã. Ou era um mamão papaia passado. Ou era um croissant farelento. Ou a manteiga rançosa. Agora, o iogurte. Como era possível? Até o iogurte estragado!

– Joguem no lixo – ordenou Dilma.

E perguntou:

– Quem é o responsável pelo meu café da manhã?

Chamaram o responsável pelo café da manhã.

– Olhe aqui, meu amigo – disse Dilma. – Eu já aguentei demais. Durante um ano, aguentei abacaxi fora de época. Pão duro. Ovo sem gosto. Bacon gordo. Aguentei tudo, sempre imaginando que no dia seguinte iria melhorar. Mas não melhorou.

E hoje chegou ao cúmulo. O iogurte estava estragado. Iogurte já é leite estragado, se estragar mais fica intragável. É o estragado do estragado. E hoje conseguiram me dar até iogurte estragado.

– É que, é que...

– É que o quê? Fale, homem!

– É que não sou eu que faço as compras, dona Dilma.

– Quem é, então?

– É um grupo.

– Um grupo?!

Era um grupo. Ou, como eles preferiam se chamar, uma aliança. Todas as manhãs, várias pessoas embarcavam em carros oficiais no Planalto e iam às compras. Cada uma levava a sua lista de compras. E cada uma tinha seu fornecedor favorito. O caso do mamão papaia era típico.

Não compravam o mamão papaia mais bonito e melhor. Não interessava a qualidade do mamão papaia, interessava que o dono da fruteira era do mesmo partido, além de primo, de um membro do grupo – que não aceitava outro mamão papaia na mesa da presidente a não ser o do seu primo. E assim acontecia com o croissant, com o pão e a manteiga, com os ovos, com o bacon...

– E o iogurte? Por que o iogurte ficou ruim de repente?

A explicação era que o iogurte mudara, por assim dizer, de patrocinador. Passara a ser importado de uma cidadezinha no interior de Minas, onde o afilhado de um dos membros da aliança era candidato à prefeitura e precisava de apoio. A viagem do interior de Minas a Brasília era longa, o iogurte não vinha bem acondicionado, era natural que estragasse...

Dilma deu outro tapa na mesa. Aquilo tinha que acabar.

– Vou eu mesmo fazer as compras!

– Mandou desfazer a tal aliança e no outro dia foi vista num supermercado enchendo o carrinho com produtos para o seu café da manhã, escolhidos com muito cuidado. Demorou-se no exame do mamão papaia, cheirando-o e apalpando-o até ficar satisfeita de que era o que queria.

Comentou com quem a acompanhava que aquilo lhe dera uma ideia para a escolha – pessoal, sem ouvir palpite de ninguém – dos seus novos ministros, quando fizesse a reforma.

– Você vai cheirá-los e apalpá-los até ficar satisfeita?

– Metaforicamente, sim.

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