quinta-feira, 26 de janeiro de 2012



26 de janeiro de 2012 | N° 16959
ARTIGOS - Astor Wartchow*


Um outro mundo é possível?

A organização e realização de um evento de contraposição à inevitabilidade histórica, ou ao dito “fim da História”, é um delírio coletivo aos olhos e coração de um conservador sociopolítico, que, afinal, acredita que “a vida é assim mesmo, que as pessoas são o que são e que os governos são todos iguais. Enfim, o mercado é que sabe”.

Mas outro mundo é possível. Povos e governos experimentam ao longo de suas existências e mandatos diversas teorias políticas e econômicas, alternando sucessos e fracassos. Nos dois extremos das experiências recentes, encontramos o capitalismo e o comunismo, teorias ainda em busca de uma síntese.

Esta síntese imaginava-se realizada no Estado de bem-estar social tipo europeu, o famoso welfare state. Infelizmente, as alterações geopolíticas na Europa modificaram dramaticamente aquela realidade, submetendo-a a graves distúrbios socioeconômicos.

Sob protestos, reina o capitalismo com todos os seus defeitos. No núcleo de sua ação motora, o egoísmo, comportamento que alguns pensadores denominam de inevitabilidade da condição e natureza humanas.

A mundialização da economia e a concentração do capital afetam e comprometem a unidade e coesão social dos povos, enquanto as desigualdades econômicas aprofundam-se à medida que aumenta a supremacia dos mercados.

A contestação do modelo dominante legitima a revolta e a agitação popular. Configura-se, pois, um quadro de inúmeras contradições que demandarão um profundo esforço e exercício de mobilização, resistência, organização e construção de alternativas.

No centro, e entretanto, o exercício da liberdade pressupõe e exige a tolerância e a solidariedade. De tudo que foi pensado, dito e sonhado, sofismado ou não, o rol utópico sugere a seguinte pauta:

Utopia um: as relações econômicas deverão estar a serviço do ser humano, da pessoa, e não a pessoa a serviço da economia. A economia é objeto da pessoa e esta seu sujeito, e não a economia sujeito da pessoa e esta seu objeto.

Utopia dois: a liberdade de autodeterminação não pode limitar-se à capacidade e autonomia de consumo, mas sobretudo alcançar a ideia de um sentido próprio à vida, de sua consagração, conferindo um sentido positivo.

Utopia três: encontros com os sonhadores e os inconformados renovam a esperança de que virá o dia em que todos terão vida digna e acesso aos bens de consumo. Renova-se a esperança de superação deste estado de passividade, de mesmice, de deslumbramentos e macaquices com os modelos de vida dos impérios da hora.

Utopia nuclear: a esperança na superação da razão sobre o instinto predador.

Para encerrar, uma frase do filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855): “Aventurar-se causa ansiedade, mas deixar de arriscar-se é perder a si mesmo. Aventurar-se no sentido mais amplo é precisamente tomar consciência de si próprio”.

*ADVOGADO

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