sábado, 21 de janeiro de 2012



21 de janeiro de 2012 | N° 16954
PAULO SANT’ANA


O meu corpo

Acontece-me atualmente um fato importante, uma transformação extraordinária: emagreci 18 quilos.

Antes da doença, eu tinha 83 quilos. Agora, estou com 65 quilos.

Em matéria de vestuário, dá-se-me o seguinte: servem ainda as jaquetas, as camisas, as cuecas, que embora frouxas são seguras pelas calças.

Mas as calças ficaram folgadas demais e soam como ridículas no meu corpo. Comprei na semana passada, às pressas, duas calças. Vou ter de comprar mais, sou outro homem, tenho outro corpo com o qual não estou acostumado.

Interessante, nesse emagrecimento fulminante, no entanto, não emagreceram o meu cérebro, o meu cerebelo, o meu córtex, isto é, meus dois hemisférios cerebrais permaneceram inalterados.

Fico imaginando idiotamente que se tivessem emagrecido o meu cérebro, o meu cerebelo e o meu córtex, se tivesse emagrecido a minha calota craniana, certamente as minhas ideias teriam diminuído de qualidade e meu raciocínio ficaria depauperado, em suma, eu teria emburrecido.

Mas não, pelo que depõem algumas pessoas chegadas a mim, com todo os indícios de que falam a verdade, fiquei intelectualmente intacto desse vendaval de emagrecimento que assolou meu organismo.

Olho-me no espelho e noto que estou diante de um esqueleto. Assustam-me minhas tíbias, úmeros, patelas, rádios e cúbitos, fêmures, assusta-me que esses meus ossos possam estar debilitados.

O médico diz que não, que logo após um câncer devem ser verificados todos os órgãos, pois pode haver recidivas das doenças neles.

Mas todas as tomografias que fiz na semana passada dão conta de que meus pulmões estão limpos e não há anormalidade em nenhum lugar.

Acho que o chocalho dos meus ossos continua perfeito e só me assusta que o pergaminho da minha pele esteja muito enrugado.

Evidente que este processo de emagrecimento gradativo e impactante se deve à minha desnutrição. Não tenho apetite e só me alimento com duas refeições diárias: pela manhã, um complemento alimentar feito de pó com leite e, à noite, a tentativa de uma janta.

Aquilo que eu fazia antes, dois ou três lanches diários entre duas refeições, nem pensar... porque não entra a comida, por mais esforço que eu faça, ela não desce na garganta, nem me atrevo a perpassá-la pelos lábios.

Mas estou vivo, tenho sensações, estabeleço atraentes conversas com amigos, administro as coisas da minha casa e dos meus pertences pessoais satisfatoriamente.

E principalmente continuo escrevendo minhas colunas. Não sei se para me adular, os amigos e alguns leitores me mandam dizer que estão ótimos meus escritos.

E lá vou eu, se passar por essas procelas, tenho tudo para ainda ser feliz.

Estou à espera de que o sol desponte e eu volte a ser uma pessoa normal, pois sinto que ainda tenho muito para dar aos meus semelhantes, ao redor do meu mundo e a mim próprio.

Força, Pablo!

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