sábado, 28 de janeiro de 2012



29 de janeiro de 2012 | N° 16962
PAULO SANT’ANA


A espera

A vida não passa de uma sucessão muitas vezes irritante de esperas.

Espera pelo ônibus, espera pelo elevador, espera pelo metrô, espera por aumento de salário, espera por melhor emprego, espera pela ansiada felicidade.

Quantas e quantas vezes me apanho esperando que me venha o sono à noite e, quando perco o sono pela madrugada, fico esperando que o sol desponte para que chegue o horário de vir trabalhar.

Todos nós esperamos por dias melhores, esperamos que cesse esse azar desgraçado que já há meses não se cansa de nos sufocar com incessantes coisas que não dão certo.

Espera por casar, espera por ter filho, espera que às vezes dura décadas para adquirir a casa própria, espera que a mulher venha algum dia a cessar essas suas ondas caudalosas de mau humor, espera que o marido venha um dia a se tornar mais delicado, mais cordial, mais afetuoso.

Espera para que a filha se forme no colégio ou na faculdade, espera que um dia sucedam ao administrador do edifício, e o atendimento aos condôminos seja mais atencioso.

Espera que o nosso patrão ou superior reflita que foi muito duro e demasiadamente severo conosco na última vez que nos convocou para uma conversa e que se normalize logo a seguir essa relação fundamental.

Tudo é espera, até a espera de que volte a esperança.

Espera de que cessem as doenças e as que nos atacam agora se suavizem.

Espera que surja um grande amor, irrompendo das brumas da solidão e do abandono.

Espera que volte a saliva, o paladar e o apetite que foram surripiados pela radioterapia. Espera que possa haver a reconciliação para o lamentável atrito que se teve com o amigo, com o filho, com o funcionário da garagem.

Não há outra solução que não sejam as frequentes e infalíveis esperas.

A espera é um ato tão peculiar na vida humana, que chegaram até a criar salas de espera nos consultórios médicos, além da espera nas filas de consultas e cirurgias do SUS.

E vá espera nas filas dos bancos, espera angustiante por uma promoção no emprego, espera por um prêmio na loteria, espera infindável que a situação no país melhore.

Estamos condenados às esperas. Basta ter vida para ter espera, esperar é um sinal forte de vida.

Levamos nove meses esperando por nascer: para esperar também. Levamos a vida inteira esperando para morrer.

E nem os mortos deixam de esperar, talvez pelo Juízo Final.

E às vezes somos ainda ameaçados violentamente de que não vamos perder por esperar.

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