sábado, 28 de janeiro de 2012



28 de janeiro de 2012 | N° 16961
NILSON SOUZA


Sr. Ciático

Depois de seis décadas de cambalhotas, futebol, corridas e má postura, fui apresentado para um certo senhor Ciático, do qual só tinha ouvido falar superficialmente nas aulas de anatomia do meu antigo curso de Educação Física ou pelo relato de terceiros. Todos falavam muito mal dele.

Diziam que era terrível, que pegava as pessoas pela coluna e as torturava da forma mais cruel e impiedosa. Confesso que nunca dei a devida atenção a esses relatos, pois raramente consideramos a dor alheia na sua devida dimensão.

Mas o indesejado das gentes foi chegando sorrateiro e instalou-se entre a L5 e a S1, que na linguagem do esqueleto significa quinta vértebra lombar e primeiro segmento da região do sacro – aquele rabinho que herdamos dos nosso ancestrais símios.

Na verdade, o ciático sempre esteve no seu lugar, cumprindo a sua nobre função de levar as ordens de movimento para as articulações e músculos dos membros inferiores. O que despertou sua fúria foi a hérnia de disco situada no ponto referido.

Bom, chega de lero-lero pseudocientífico. O que quero dizer é que dói muito, uma dor incessante, terrível, desconcertante, inimaginável para quem nunca a sentiu. Parece que não vai terminar nunca. Passei vários dias sem caminhar, sem estender a perna, sem ao menos ser capaz de vestir as meias sozinho.

Para quem sempre foi metido a atleta, não poderia haver maior desespero. Meu desconforto só não foi maior porque sempre encontrei apoio afetivo e profissional.

Está sendo um doloroso aprendizado. Uma vez fiquei preso no elevador. Durou apenas alguns minutos, mas a sensação de prisão e sufocamento quase me deixou em pânico. Desde então, sempre que falta luz, corro até o elevador para ver se ninguém ficou preso. Agora, tenho certeza, passarei a prestar mais atenção nas dores alheias.

Pois é justamente por isso que resolvi compartilhar esta experiência pessoal com os meus leitores. Sejam vocês jovens ou maduros, atletas ou sedentários, prestem atenção no conselho da minha fisioterapeuta:

– Sente sobre os ísquios!

Significa sentar ereto, com o peso sobre aqueles ossinhos mais salientes da região glútea – e não escarrapachados sobre o sacro, com a coluna torta, como costumamos fazer no sofá de casa.

Se você não fizer isso, o sr. Ciático te pega. E ele é pior que o bicho-papão.

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