quinta-feira, 12 de janeiro de 2012


Eliane Cantanhêde

Não sejamos eles amanhã

BRASÍLIA - Na mesma semana, a imprensa registra duas ondas que, de certa forma, se complementam: emigrados mineiros começam a voltar dos EUA e levas de haitianos vêm salvar a vida aqui. O Brasil é o futuro. Mas a boa notícia se esgota aí.

Há anos o Brasil lidera uma força internacional não apenas de paz, mas de recuperação do Haiti, e o país continua atolado na desesperança. O problema, assim, vem bater aqui. Agora, o que fazer com os haitianos que nos pedem socorro?

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, alega que é preciso impedir que a situação fique "sem controle". E, ok, nem o Haiti é o México nem o Brasil é os Estados Unidos para que "coiotes" conduzam haitianos como gado através das fronteiras.

Mesmo assim, a decisão do governo de conter a "invasão" de haitianos é muito polêmica e remete não só para as fronteiras dos EUA com o México -nas quais muitas vezes os "haitianos" somos nós- mas também para movimentos racistas da Alemanha, partidos xenófobos da França e o nojo de países ricos diante de imigrantes "piolhentos" de países pobres.

Esquecem-se da causa e efeito entre a velha história de impérios e colônias e a nova realidade migratória. França e Inglaterra, por exemplo, pintaram, bordaram e deixaram rastros mundo afora e depois, como penitência, tiveram que abrigar os refugiados do norte da África e da Índia. Do que reclamar?

Atordoado pela sensação de "potência" e a guinada de exportador para importador de gente (em circunstâncias bem distintas das que trouxeram portugueses e africanos, depois italianos e alemães e assim por diante), o Brasil fecha fronteiras, limita vistos, devolve gente como entulho e discute a "ameaça aos empregos locais". Não é digno da fama, da história, da identidade e da formação da gente brasileira.

No mínimo, essa questão precisa ser muito mais bem discutida. Até para evitar mal entendido.

elianec@uol.com.br

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