domingo, 22 de janeiro de 2012


Carlos Heitor Cony

Futebol e cerveja

RIO DE JANEIRO - O pessoal da Fifa continua insistindo em detalhes a respeito da próxima Copa do Mundo a ser realizada no Brasil. Não compreendo como, após a decisão final da própria Fifa, quase um ano atrás, certos problemas pontuais não tenham sido esclarecidos por ambas as partes.

Evidente que a instituição máxima do futebol não devia contrariar a legislação existente em cada país. Seria um dado importante para a definitiva escolha do próximo evento esportivo em escala mundial.

Digamos que um país islâmico ou teocrático proíba não apenas a cerveja mas também o fumo ou faça qualquer outro tipo de restrição. Caberia à Fifa levar esse ponto em consideração, negociando ou se submetendo à soberania do país.

Como torcedor anônimo, tendo assistido à final de duas Copas (a de 1950, no Brasil, e a de 1998, na França), acredito que a negociação entre as partes deveria levar em conta o caráter festivo do evento, que no fundo, como na Olimpíada, são momentos de congraçamento universal.

Na Copa de 1950, cheguei ao estádio às 9 horas, o jogo estava marcado para as 15 horas. A bebida era livre, muitos torcedores já chegaram calibrados. Apesar do gol de Ghiggia que até hoje nos faz sofrer, não houve incidentes de monta, embora 200 mil pessoas estivessem reunidas durante tanto tempo. Bem, todos torciam para um lado só.

Na França, fiquei na bancada da imprensa e tinha acesso fácil aos bares do Saint-Denis. Também não me lembro de nenhum tumulto. Afinal, cerveja, Carnaval e futebol são ingredientes naturais das grandes festas populares, desde os tempos das saturnais e bacanais. Embora o futebol ainda não existisse, havia torneios até que bem mais violentos.

Sem ferir a soberania nacional, acho que o Brasil deveria ceder nesse ponto.

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