sexta-feira, 27 de janeiro de 2012



Caos e oito mortes diferentes no pequeno burgo

No vilarejo Burgo São Judas, de 74 casas (mais da metade abandonadas), um bar, uma mercearia e uma igreja com presbitério, nada acontecia e ninguém entendeu como aquelas doze mortes ocorreram, justamente onde nada ocorria.

Assim começa a narrativa de XY, o novo romance do escritor italiano Sandro Veronesi. Em XY, numa manhã, no vilarejo, uma mulher acorda desesperada, banhada em sangue. Constata que a cicatriz de um corte sofrido no dedo há mais de quinze anos reabriu de forma inexplicável.

Ao mesmo tempo um sacerdote descobre os horrores guardados sob a neve da pequena localidade italiana: corpos de adultos e crianças mortos de uma maneira que desafia a lógica e vão colocar em teste a fé do pároco. A relação entre o sangramento e a série de assassinatos vai ligar o padre e a mulher para sempre. Giovanna Gassion, psiquiatra e psicóloga, sempre pautou sua vida pela racionalidade e manteve enterrados dentro de si traumas, dúvidas e desilusões.

Ao ver seu próprio sangue, ela tem reaberta, além de sua própria ferida, toda a experiência que a levou a cortar o dedo na adolescência. Sem explicações para os assassinatos inusitados, a médica praticamente tem sua sanidade posta em xeque quando descobre que o corte voltou a sangrar justamente no mesmo momento em que ocorreram as mortes em São Judas.

O sacerdote tem sua vida posta de cabeça para baixo por ser uma das testemunhas da descoberta de corpos enterrados sob o gelo. A polícia desorientada o aponta como suspeito, mas desconfia de um atentado terrorista. Perseguido pelas autoridades que tentam mascarar a verdade, o sacerdote fica sem alternativa e permanece na cidade, numa espécie de cárcere privado.

Oito adultos, duas crianças, um cavalo e um cachorro morreram cada um de um jeito diferente, seja por doença, acidente, engasgo com casca de pão e até mesmo por mordida de tubarão, em plena montanha. O sacerdote busca esclarecimentos racionais e científicos com a psiquiatra. Ela não apresenta a sanidade mental habitual, pouco pode fazer. Ou seria ela a chave do enigma? Teria alguém sobrevivido à chacina?

A visão científica da mulher (X) representada pela médica e as questões da fé (Y) representadas pelo sacerdote vão se alternar e os dois vão revendo seus conceitos. Delírio, medo, impotência e angústia estão presentes. Se dissipará a espessa bruma do mistério e do horror? Teriam todos perdidos a fé e o juízo? Editora Rocco, 320 páginas, R$ 45,00, www.rocco.com.br

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