terça-feira, 24 de janeiro de 2012



24 de janeiro de 2012 | N° 16957
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


O mestre dos mestres

Que dizer de um homem que foi contista, novelista, romancista, cronista, dramaturgo, jornalista, poeta, crítico e ensaísta, algumas vezes com genialidade, mas sempre com talento? Estou falando do maior escritor da literatura brasileira, Joaquim Maria Machado de Assis.

Filho de operários, ele próprio epilético, mulato e gago, criou-se no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro. Coroinha da igreja da Lampadosa, vendedor de doces, sem nenhum acesso a cursos regulares, aprendeu francês com o forneiro de uma confeiteira francesa.

Autodidata, aos 16 anos publica sua primeira poesia, prelúdio de uma obra portentosa, que o levaria, na vida civil, à diretoria-geral de um dos ministérios da nação, e na literária a presidente da Academia Brasileira de Letras.

Muito mais do que isso, paralelamente, construiria uma carreira literária de que alguns pontos altos foram Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas. Só esses dois livros lhe garantiriam lugar de relevo em qualquer antologia universal do romance.

Contam-me agora que o terceiro volume de sua correspondência pessoal acaba de ser publicado. É um marco para as letras nacionais. Vemos ali a intimidade de Machado de Assis dialogando com seus amigos, dentre os quais Joaquim Nabuco, seu grande admirador, Mário de Alencar, que poderia ser seu filho, ou Salvador de Mendonça.

Nessas páginas, escritas sem nenhuma pretensão literária, espelham-se o perfil e a alma do mestre dos mestres. O criador de Capitu, esse mistério de olhos de ressaca, não é conhecido lá fora, onde fica a civilização. Pouco a pouco vão surgindo no entanto traduções e interpretações, nos Estados Unidos e na Europa, que o colocam entre os grandes da literatura do Novo Mundo.

Pior para o Velho Mundo, onde Machado poderia ombrear-se com um Stendhal. Algum dia chegará sua vez de ser reconhecido e aclamado. Até lá, contentemo-nos ao menos com a mensagem íntima de suas cartas.

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