sexta-feira, 20 de janeiro de 2012


Jaime Cimenti

Retrato satírico da era Berlusconi

O romance A festa do século, do escritor italiano Niccolò Ammaniti, que nasceu e vive em Roma, mostra bem por que ele tem sido considerado um dos melhores e mais interessantes escritores da literatura italiana contemporânea.

No Brasil, pela Editora Bertrand, Ammaniti já publicou Como Deus manda, que recebeu, em 2007, o prestigiado prêmio Stregha. A narrativa se passa no coração de Roma, onde o especulador imobiliário Sasà Chiatti organiza, em sua nova residência de Villa Ada, o maior evento mundano da história da república italiana.

A residência fica no mais belo e maior parque romano, que foi adquirido por Sasà pela bagatela de € 450 milhões. No festão despontarão presenças tão distintas entre si como um chef búlgaro, batedores negros recrutados na estação ferroviária Termini - a maior e mais importante da Europa -, cirurgiões plásticos, políticos, atrizes de segunda categoria, jogadores de futebol, tigres, elefantes e, também, Fabrizio Ciba, o bonito e famoso escritor quarentão que, mesmo sendo apresentador de tevê, é avesso à mídia mas aceitou comparecer.

Fabrizio foi divulgar um livro de sua editora, cujo autor havia recebido o prêmio Nobel de Literatura.

Tudo se encaminhava “normalmente” até a decisão de uma destrambelhada seita satânica chamada Bestas do Abaddon. A tal seita originária do Oriolo Romano, comuna italiana com cerca de 3 mil habitantes, pensa em reaver seus antigos dias de glória e o evento é considerado um momento perfeito para isso.

Eles pretendem assassinar a cantora pop Larita durante os festejos. Ex-vocalista de uma banda de death metal, é odiada pelos satanistas, que enxergam nela a vítima perfeita. Protagonistas e figurantes serão engolidos pela aventura. O grotesco, o trágico, o cômico, o insólito e outros elementos compõem a metáfora de uma sociedade apodrecida e caricatural.

Mas o retrato febril, distorcido e fúnebre da sociedade italiana - na verdade, universal - é tão fiel quanto a capacidade poética de seu autor, Niccolò Ammaniti, aclamado pela mídia italiana e europeia por suas qualidades em termos de forma e conteúdo.

Há quem o compare a Charles Dickens e o considere o melhor romancista de sua geração. Há quem diga que a narrativa de Niccolò é um retrato satírico das festas com “bunga bunga” promovidas pelo ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi.
Bertrand Brasil, 336 páginas, tradução de Joana Angélica d´Ávila Melo, mdireto@record.com.br.

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