segunda-feira, 30 de janeiro de 2012



30 de janeiro de 2012 | N° 16963
ARTIGOS - Bruna de Mello Vicente*


Tentativa de igualdade

Fiquei estarrecida com os comentários na reportagem de ZH sobre o novo sistema de seleção de cotistas para ingressar na UFRGS. Sou negra e passei em Medicina na UFRGS pelas cotas para negros de escolas públicas. Admira-me que pessoas que tenham estudado História para passar no vestibular critiquem as cotas.

Será que não estudaram que, quando houve a Lei Áurea, os negros ficaram sem emprego e indenização por todos os anos de trabalho forçado e de torturas, ou que grande parte dos imigrantes europeus ganhou terras para morar e trabalhar, ao contrário de nós?

Segundo dados da Síntese dos Indicadores Sociais 2010 feitos pelo IBGE, três quartos dos 10% mais pobres são negros. Pesquisas mostram que até hoje alguns negros que têm o mesmo emprego de brancos ganham menos que estes. As desigualdades ainda existem. Afinal, não é fácil mudar mais de 300 anos de História com apenas 123.

Há algo que muitas vezes esquecemos: as universidades públicas não foram criadas para que pessoas sem condições de pagar um curso superior possam se qualificar? Então, por que vestibulandos de escolas particulares estão reclamando?

Em vez deles, não deveríamos nós, alunos de escola pública, sem renda suficiente para pagar uma universidade particular, pedir maior reserva de vagas? Nem todos que estudam em escola particular têm condições de pagar um curso superior. Muitos estudam lá com bolsas e outros com o esforço de seus pais.

Como os meus, que batalharam para pagar cursinho para eu passar em uma universidade federal, pois não teriam condições de pagar um curso superior. Porém, sabemos que muitos estudantes de escolas particulares têm condições de pagar sua faculdade e estão tirando vagas daqueles que estudam em uma escola pública porque seus pais não podem pagar por sua educação e acabam com um péssimo aprendizado, pois todos nós sabemos que nosso ensino público é muito inferior ao ensino particular.

As pessoas não podem continuar criticando as cotas sem levar em consideração a educação pública brasileira e as condições de índios e negros neste país. Não seria a favor delas se todos vivessem de maneira igualitária, com direitos, condições sociais e raciais iguais e sem preconceitos.

Contudo, nossa sociedade não é assim e, enquanto ela não for uma sociedade igual, cotas terão que continuar existindo para tentarmos obter um país sem diferenças sociais.

*Estudante

Ótima segunda-feira e uma excelente semana pra vc

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