Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
20 de janeiro de 2012 | N° 16953
DAVID COIMBRA
Antes das vacas
Nosso problema é que temos a cabeça grande demais. Precisamos dela a fim de guardar um cérebro bem maior do que o dos outros animais. Óbvio: um cérebro tão grande nos proporcionou vantagens. Conseguimos submeter feras muito mais fortes e ágeis, conseguimos controlar a natureza, conseguimos inventar o YouTube, onde assistimos a toda a exuberância da Laisa no BBB.
O problema a que me refiro é sentido por nossas queridas mães quando do nosso nascimento. O nenê, mesmo a contragosto, tem de sair de dentro da mãe. Como fazê-lo com aquela cabeça enorme? Dureza.
Mas a evolução, sábia e prática como sempre, concebeu uma solução: fez com que os nenês nascessem com o cérebro não completamente formado. Assim, a cabeça que, blop, salta para fora do corpo da mulher parideira não é a mesma que será depois de alguns anos. Sai mole e mínima, torna-se robusta e dura de pedra.
Foi um desenlace inteligente da natureza, mas acarretou uma consequência: as crianças necessitam de proteção e cuidado dos pais até que seus cérebros fiquem prontos. Leva tempo. Nos primeiros anos, elas não possuem instrumentos para se virar sozinhas, como ocorre com os filhotes dos outros bichos todos.
A dependência que os filhotes de seres humanos têm dos adultos gerou um estilo de vida em que os seres humanos são interdependentes uns dos outros: o sedentarismo. E, o que é formidável, acarretou esse tipo de contingência a outras espécies. O cachorro, por exemplo.
O cachorro só existe porque o homem existe. Há 100 mil anos não havia cães, apenas lobos. O ser humano é que aprendeu a domesticar os lobos, que se transformaram gradualmente em cães. Então, todos os cachorros, todos, até essas miniaturas repugnantes com rabo de pompom, são descendentes dos nobres e ferozes lobos.
Domesticados, os cachorros nascem dependentes do homem. Se não conviverem de alguma forma com os seres humanos, não conseguem sobreviver. Não é à toa que se fazem de nossos melhores amigos, nos abanam o rabinho, nos olham com submissão: puro interesse.
A vaca, a mesma coisa. Vacas, bois e outros da família bovina são descendentes dos bravos uros. O uro era uma espécie de touro de dois metros de altura e chifres recurvos de metro e meio. Foram extintos no começo do século 17. Júlio César, que viu muito uro na vida, os descreveu como feras “pouco menores do que os elefantes”.
Os uros eram perigosos e quase indomáveis. Só não eram totalmente indomáveis porque foram domados, se transformaram no boi doméstico e desapareceram na história. E agora o boi só consegue viver sob a proteção do homem.
Pois os filhotes humanos, que são a razão mesma do sedentarismo e da existência de cães e vacas, agora estão passando por processo exatamente igual ao que passaram os ancestrais dos cães e das vacas.
Criadas no confinamento dos apartamentos, superprotegidas por pais que, com razão, temem a violência urbana, as crianças estão se transformando em jovens cada vez mais dependentes dos adultos. Homiziam-se na casa paterna até bem depois dos 30 anos. Quarentões comportam-se como adolescentes. Mulheres feitas como menininhas.
E até a lei, isto é, o Estado, tenta contemplá-los: meses atrás, a deputada Manuela propôs meia-entrada para “jovens” estudantes de até 29 anos. Tudo mudou. Tudo se transforma, já disse Lavoisier. Mas nem sempre mudança é evolução.
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