quinta-feira, 26 de janeiro de 2012



26 de janeiro de 2012 | N° 16959
PAULO SANT’ANA


Raios X no coração

Não gosto de ir a festas e outros encontros em que sou a maior atração. Sinto que constranjo outros que são atrações menores.

Havia uma pessoa muito atraente e famosa aqui em POA que estrategicamente evitava de me levar a eventos em que ela era a atração, com receio de que eu fosse superá-la no local.

Sinto-me mais à vontade quando nitidamente existem nesses eventos pessoas de maior vulto do que eu, até mesmo porque então diminui minha responsabilidade.

Cego é aquele que só enxerga até onde a vista alcança.

Surdo é aquele que só ouve até onde o ouvido alcança.

Mas comigo se dá uma coisa estranha: eu amo além de onde meu coração alcança. Meu coração emite ondas de raios X que perpassam o que amo e a quem amo e alcançam tudo que lhes for pertinente.

Um exame rigoroso me deu a triste notícia ontem: meus dois labirintos estão completamente inativados.

Imaginem a importância do labirinto, como um dos órgãos primaciais do corpo humano no que se refere ao equilíbrio, pois os meus estão inativados. Não digo extintos porque tenho esperança de que exercícios de reabilitação vestibular estafantes possam vir a recuperá-los.

Mas esse passou a ser agora o meu grande e máximo problema de saúde.

Em compensação, em exame também feito ontem pela radiologista Mariângela Friedrich, foi constatado que minhas artérias cervicais e cerebrais estão tinindo, irrigando meu cerebelo, meu cérebro, minha cerviz (nuca), meu couro cabeludo, meu rosto e todas as imediações da cabeça.

Ou seja, minha terrível tontura, não há agora mais dúvida, tem origem na desativação incrível dos meus labirintos, suponho que pelas cirurgias que extirparam vários tumores do meu ouvido (cerca de cinco).

Será que posso reativar meus labirintos?

Mas, enquanto eu puder ainda ouvir um violão e um bandolim, enquanto eu puder ter à minha volta amigos em torno a uma mesa, enquanto eu puder comer um espaguete à carbonara, enquanto eu tiver forças para visitar doentes nos hospitais e detentos nos presídios, enquanto eu puder escrever o que estou escrevendo, livro de textos inéditos que lançarei em breve e que já nos e-mails encontra leitores que se inscrevem como compradores, enquanto correr o sangue em minhas artérias e as ideias no meu cérebro, há vida e eu viverei.

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