domingo, 15 de janeiro de 2012


Eliane Cantanhêde

Contradições da adolescência

BRASÍLIA - Entramos o ano discutindo questões inéditas, surpreendentes e até apaixonantes. Bem mais do que a queda de ministros.

O SUS e os planos de saúde têm de bancar a retirada da velha e também a colocação da nova prótese de silicone da moça que adora modismos, detesta seios pequenos e agora é vítima de vazamentos e inflamações por falta de controle do governo?

Receber telefonemas e e-mails em casa e nas férias caracteriza ou não hora extra a ser remunerada? Quando, como e em que casos?

Até onde deve ir o CNJ? A ministra Eliana Calmon poderia ou não pedir relatório ao Coaf, o órgão de fiscalização financeira do governo? E o que fazer diante das "operações atípicas" de R$ 856 milhões nas contas de juízes e servidores do Judiciário?

Afinal, as levas de haitianos devem ser recebidas sob a ótica humanitária ou sob os imperativos da lei, da economia e da segurança?

E a cracolândia? Usuários devem ser dispersados com balas de borracha pela polícia ou delegados só a psiquiatras e assistentes sociais?

São questões polêmicas, que dividem opiniões, mexem com emoções e cultura de cada um. Os prós e contras se atropelam atabalhoadamente na internet e descambam para a agressão a quem, simplesmente, pensa diferente. Os nervos estão à flor da pele.

Mulheres tratam os riscos do silicone como questão de gênero, patrões e empregados reavivam a luta de classes em torno de e-mails, juízes se sentem no banco dos réus, haitianos viram cobaias de um previsível movimento migratório rumo ao Brasil. E a cracolândia deixa de ser problema de saúde e segurança para virar palanque político.

Se tudo isso é ruim? Não, pelo contrário. São apenas sintomas de que o Brasil cresce e aparece, e a sociedade participa, questiona e influencia. Enquanto a Europa sofre o "estresse sistêmico" da velhice, o Brasil vive as contradições da adolescência: não é mais criança, mas está longe de ser desenvolvido.

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