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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
16 de janeiro de 2012 | N° 16949
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Bach
Quem se interessou pelo título gostará de saber que a vida de Johann Sebastian Bach tem um filme-biografia definitivo, e isso já desde 1985 – e que apenas agora chega a nós em DVD duplo pela persistência heroica da brasileira Versátil. Trata-se de uma minissérie de seis horas de duração, Johann Sebastian Bach – O Mestre da Música, produzida antes da implosão do bloco soviético. Uma coprodução entre a Televisão da DDR (ex-Alemanha Oriental) e a TV Magyar, da Hungria.
Quando pensamos nos grandes compositores, costumamos usar rótulos: Bach, por exemplo, sempre é representado como solene e sisudo. Aprendemos, equivocadamente, que o Mestre de Leipzig era dado a composições que falam à filosofia e ao cérebro. Seus austeros retratos colaboram para essa imagem-clichê. A realidade, porém, está longe disso.
A minissérie, dirigida por Lothar Bellag, apresenta uma interpretação magistral de Ulrich Thein no papel-título e mostra-nos Bach em vários momentos capitais de sua vida. A reconstituição de época é impecável, tanto no aspecto musical como no figurino e nos cenários.
O pormenor vai ao ponto de recriarem artefatos do século 17 e 18, como os sistemas de iluminação doméstica e a qualidade precária dos vidros das janelas. O ambiente psicossocial traz-nos uma era em que os músicos não passavam de empregados de poderosos nobres ou, como Bach, de uma congregação implacável na exigência de trabalho e mais trabalho.
O espectador assiste, encantado, à evolução do pensamento estético de Bach e suas sucessivas conquistas, como o revolucionário conceito do “temperamento” das escalas e, já no fim da vida, a escrita da monumental Arte da Fuga.
Há momentos que devem ser vistos várias vezes, como o da composição da Cantata dos Camponeses e, dentre outras, da escrita da Oferenda Musical, em que Bach fascina-se por um tema e o explora até suas últimas consequências.
Não é necessário conhecer música para assistir ao DVD. Johann Sebastian Bach, o filme, é um prodígio para os olhos, ouvidos e sensibilidade. Conhecemos um Bach que é capaz de emocionar-se, ter dúvidas e dívidas, praticar pequenas injustiças, rebelar-se, enfurecer-se, amar – enfim, capaz de praticar tudo isso a que chamamos, de maneira singela, de humanidade.
Quem pensava que o bloco socialista era um deserto cultural, terá de rever seus preconceitos. No filme, inclusivamente, apresenta-se um tema tabu do marxismo materialista: Deus. Deus, aqui, é motivo de fé e reflexão.
Enfim: um filme completo, belo, esplêndido do início ao fim.
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