sábado, 21 de janeiro de 2012



22 de janeiro de 2012 | N° 16955
PAULO SANT’ANA


Os domingos da juventude

Hoje é domingo e fico a cismar o quanto estes 3.744 domingos que vivi até agora nestes meus 72 anos foram importantes na minha vida.

Desde que eu tinha 10 anos de idade, em todos os domingos ia à matinê do Cine Brasil, na Avenida Bento Gonçalves, no Partenon, assistir aos filmes e seriados que me fizeram ter uma mais ampla visão do que era a vida que me tocava neste mundo.

Era nos domingos que eu comprava 30 exemplares do Correio do Povo por 50 centavos cada um e os revendia por um cruzeiro nas encostas do Morro da Polícia. É incrível recordar que no primeiro negócio que fiz em minha vida, este, eu ganhava 100% sobre meu investimento.

Depois vieram os domingos das missas importantes na Capela do Sagrado Coração de Jesus, no Partenon, onde eu era sacristão. A missa era uma festa para mim e um grande evento.

Eu tinha vergonha de me ajoelhar para ajudar a missa, ficando assim à mostra para os fiéis as solas furadas dos meus sapatos, meu pai não tinha dinheiro para me comprar sapatos novos. Mas eu ia em frente assim mesmo, era preciso ajudar na missa, meu grande evento.

Depois, os domingos eram os dias de futebol. Eu furando todos os domingos o Estádio Olímpico, amalgamando a minha paixão pelo Grêmio.

Anos mais tarde, os mais emocionantes domingos da minha vida: com 24 anos de idade, inspetor de polícia em Tapes, comparecia ansioso a todas as reuniões dançantes do Clube Aliança, em Tapes. Como ali, nunca fui feliz em toda a minha vida. Porque havia 20 garotas para cada rapaz. E, sendo assim, nós ficávamos mais bonitos, as meninas nos disputavam, às vezes beligerantemente, entre si.

Nós, rapazes, podíamos dançar e namorar com a menina que bem entendêssemos, todas elas acalentavam a esperança de casar-se.

Que domingos!

O domingo sempre foi um dia de festa, mas trazia consigo uma tensão preocupante: no dia seguinte, seria segunda-feira e recomeçava a lida dura da vida com o trabalho.

O sábado tem uma atração maior que o domingo: no sábado, alimenta-se deliciosamente a perspectiva concreta do domingo, enquanto o domingo encerra um certo pequeno terror pela chegada da segunda-feira.

Os domingos em Tapes compreendiam o encanto do namoro, mãos dadas, beijos, troca de sonetos, ciumezinhos entre os namorados, fofocas sobre quem estava namorando quem, sobre quem tinha brigado com quem, sobre a possibilidade de que alguns casais noivassem, sobre rupturas definitivas entre namorados, esperanças tão deliciosamente acalentadas que foram bater nos rochedos duros dos últimos encontros. Não há nada mais triste na vida do que o último encontro.

Talvez só mais triste o acontecimento de dois namorados romperem para sempre, mesmo que se amassem perdidamente, por incompreensões ou por, quase sempre, proibições taxativas dos pais, irrecorríveis.

É muito triste a separação entre duas pessoas que se amam, dessa cicatriz jamais se livrarão em suas vidas.

Eram inquietos, saborosos mas também cheios de dor e medo do futuro os domingos da juventude.

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