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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
18 de janeiro de 2012 | N° 16951
MARTHA MEDEIROS
Arrogância não ensina
Quando soube da polêmica causada pela redação da prova de vestibular da UFRGS deste ano, corri para ler seu enunciado. Estava com uma leve suspeita de que o barulho era desproporcional ao fato. Que nada, os vestibulandos têm todo o direito de chiar. Foi provocação.
A vida hoje não é melhor ou pior do que em outros tempos, é diferente. Décadas atrás, aprendiam-se latim e francês nas escolas, e a leitura de clássicos não amedrontava. Na ausência de TV e internet, a introspecção favorecia uma vida intelectual mais rica. A comunicação – fator de evolução de todas as sociedades – se dava em bases mais sólidas.
Porém, muita coisa mudou. A tecnologia decretou novos hábitos e costumes. Mexeu com o vocabulário e com os sistemas de interatividade. A educação perdeu espaço para a economia. A população quadriplicou. O mundo virou uma aldeia global. A informação passou a chegar a qualquer canto, mas nem assim a alienação foi exterminada, ao contrário, se propagou. O mundo hoje é mais individualista, mais brega e mais burro. Generalizando, é.
Os idealizadores da prova de redação da UFRGS sabem disso, e essa consciência faz deles pessoas mais cultas e inteligentes do que a maioria. Bravo. Cultura é um valor inquestionável, e pobre do país que desprestigia o conhecimento. Porém, não houve bom senso na elaboração da prova, e bom senso também é uma forma de inteligência.
Pouquíssimos jovens – aliás, raros adultos também – sabem quem é Adamastor, se uma figura mitológica ou se o dono do botequim da esquina. E não é imprescindível que saibam se querem se tornar bons médicos, bons engenheiros, bons jornalistas.
Aos 17 e 18 anos, faixa etária de quem pleiteia uma vaga na faculdade, o importante é saber escrever corretamente, desenvolver um raciocínio lógico, não se perder em abstrações, ter firmeza de caráter, conhecer o significado da palavra ética, ter um projeto de vida que vá muito além da ganância e... ops, me excedi.
Vamos ficar apenas com “saber escrever corretamente” e “desenvolver um raciocínio lógico” – as outras exigências eles terão que demonstrar para a vida, não para uma banca acadêmica de avaliadores.
Indo direto ao ponto: o enunciado da redação foi pedante. Poderiam ter solicitado o desenvolvimento do mesmo tema – o papel do idioma na formação da identidade de um país – sem fazer “buuuu” para essa garotada que é chegada a cenas de terror, sim, mas no cinema.
Qual o motivo de nausear estudantes que, pela situação competitiva em que se encontram, já estão suficientemente nervosos? Com que propósito, senão arrogância?
O ensino precisa melhorar muito no Brasil. Exigir mais dos alunos. Se adaptar às novas ferramentas. Formar cidadãos mais preparados. Valorizar a História, o português, investir nos alicerces que sustentam nossa evolução. Ninguém discute: estamos retrocedendo. Mas que não se queira avançar na marra, através da humilhação.
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Um comentário:
Achei de muito mal gosto a crônica da autora, pois dos jovens que terminam o ensino médio, espera-se muito mais do que escrever, eles precisam é saber ler. Escolher bons autores para poderem escrever bem. E o "Adamastor" deve sim, ser conhecido de todos os estudantes, através de Camões teremos bons analisadores e escritores de textos.
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