Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
PÓS-MODERNOS DE TACAPE
Que somos homens das cavernas fantasiados de pós-moderninhos, isso todo mundo sabe (poucos sabem o que seria esse “pós-moderno”). Estamos em forma, visitamos os melhores resorts, temos vários cartões de crédito e dívidas que se acumulam, mas quem liga? Marido um gatão, mulher uma gatinha, os filhos olhando. Ai o cara das cavernas desperta, grunhe, ou ruge, e ataca. Pega a clave, o tacape – que pode ser de material sólido mesmo ou matafórico, feito de palavras, ou de atitudes -, e pau no outro.
A hostilidade deve andar de mão dadas com o stress, que hoje desculpa quase tudo. No trânsito, o número de loucos à solta cresce assustadoramente: costuras bizarras, pára-choque do carro ameaçando uma trombada sem motivo, gestos obscenos pela janela ou atrás do vidro. No estacionamento, alguém te amassa o pára-lama ou risca a porta claramente com a chave do seu carro: maldade, divertimento boçal, retardados cidadãos.
Nos condomínios, nem sempre as coisas são pacíficas: onde tem gente reunida floresce vizinhança boa e amizade, mas também muita insensatez, falta de compostura, de consideração. Nas ruas, cotoveladas para abri caminho, nos ônibus senhoras em pé e mangolões atirados nos bancos. No cinema comilança, conversa e arrotos, nas salas de aula celulares e outros a pleno vapor.
Greves trancam a educação já tão por baixo. Agora deram para protestar queimando livros, (ouvi falar de alguém que fazia isso em outros tempos, chamava-se Adolf...) Transportes, aeroportos, hotéis, precários, tudo parando, vivam as férias. Viva a Copa e semelhantes. E nós, cada vez mais irritados, quer dizer, também agressivos. Viver e conviver é difícil. Tem de sublimar para continuar curtindo o seu canto abrindo seu caminho sem pisar no outro.
Vai ver a gente pede demais, espera demais, quer demais, quer compostura e paz, onde já viu? Confesso que eu queria, sim, que a gente fosse um pouco mais manos (trouxa, nunca), mais construtivo, mais aberto às possibilidades boas pois as ruins não são as únicas.
Queria que em vez de hostis e agressivos fôssemos mais gentis mais civilizados. E que, em lugar desta sociedade fascista do “tem de”, a gente se permitisse uma atitude mais bondosa consigo mesmo, perguntando, afinal, o que é que eu quero, O que é que eu posso, o que me deixa mais realizado, mais contente, mais produtivo, mais feliz – ou o que me faz assim ansioso e hostil?
Deixando de transformar o ressentimento em insulto, ou stress em pedradas, usando esterco para sujar o que existe de positivo, e ainda cuspir em cima, assim, gratuitamente, sem fundamento que não a nosso errática agressividade. Eu ando sem paciência e pouco simpática. Fora da realidade, me disse alguém. Pode ser. A idade tem suas chatices, mas pode nos fazer mais tolerantes (ou mais implicantes), o que nos torna mais alertas – porque, como diz o dito popular, o diabo não é esperto por ser diabo, mas por ser velho.
A gente entende que basta um momento só nosso, parar pensar, contemplar o outro, curtir a natureza, a vida, indagar dentro da gente mesmo, para diminuir essa irritação dos estressados. Pois, hostil, o agressivo, não se manifesta a toda hora nem em toda parte: talvez sem seja a maioria sempre pronta a rosnar e atacar. Muito jovem estuda e trabalha com grande dificuldade e é amoroso com a família. Muito velho ainda curte afetos. Muito trabalhador, do gari ao intelectual, dá o melhor de si para um mundo mais habitável.
Qualquer um pode escapar, de graça para uma beira da estrada com borboletas de um espantoso azul; descobrir as nuvens por cima dos telhados, num jogo de cores que pincel nenhum pode criar. Curtir a algazarra de crianças no pátio do edifício, mesmo entre altos muros; ou ter alguma visão de beleza dentro da mais modesta casa.
E vai se reconciliar com este atrapalhado, sedutor e hostil mundo nosso, da corrupção, da impunidade, do endividamento, da miséria, da grandeza e da iniqüidade: não se consegue por todo o sempre, mas por algum tempinho. E já será bom.
Lya Luft
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Um comentário:
Genial ter postado isso aqui!
Eu vi na veja e estava procurando pra compartilhar!
Obrigada!
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