quarta-feira, 28 de dezembro de 2011



28 de dezembro de 2011 | N° 16930
NILSON SOUZA


O ciclo dos técnicos

Merece reflexão a justificativa do presidente do Atlético Paranaense, Mário Petraglia, para a contratação de um treinador uruguaio, que terá a missão de devolver o clube à Série A. Em nota, ele diz que seu objetivo é sair do “ciclo vicioso” do mercado nacional, caracterizado por profissionais que supervalorizam seus honorários sem querer assumir riscos ou responsabilidades sobre os resultados em campo.

Não sei até que ponto a justificativa merece crédito, pois Petraglia parece ter considerado muito mais o aspecto econômico do que qualquer outra coisa para chegar ao nome de Juan Ramon Carrasco, ex-meio-campo que jogou no São Paulo e treinou a seleção uruguaia antes da Copa da Alemanha. O câmbio atual favorece os brasileiros na contratação de profissionais dos países vizinhos.

Mas ele toca num ponto intrigante do nosso futebol, que é quase uma reserva de mercado mantida por um grupo restrito de treinadores e, principalmente, por empresários e procuradores. É bem difícil a renovação nesta atividade.

Irracionalidade

O mais paradoxal do nosso sistema é que os treinadores dos grandes clubes são pagos para fazer milagres – e todos, inclusive eles, sabem que não fazem. Por isso existe esta rotatividade irracional: duas derrotas seguidas, cabeça a prêmio; três derrotas, demissão certa. E logo aparece outro clube para contratar o demitido a peso de ouro. Em alguns casos, o mesmo que já o demitira no passado. Dá para entender isso?

Longevidade

O sonho de todo treinador sério e estudioso do futebol é ser um Alex Ferguson, o escocês que dirige o Manchester United há mais de 25 anos. Dificilmente um outro profissional alcançará tal marca, mas um pouquinho mais de longevidade já permitiria que alguns treinadores pudessem realmente aplicar suas ideias táticas e seu modo de pensar o futebol.

O problema todo é a tal de paixão, que leva dirigentes a agir como torcedores, torcedores como linchadores e, de acordo com os próprios técnicos, jornalistas esportivos como julgadores impiedosos.

Salários

Renato Gaúcho (momentaneamente fora do ciclo) disse outro dia que treinador tem que ganhar muito bem – e enfatizou o muuuuito – porque trabalha na insegurança, recebe críticas de todos os lados e pode acordar sem emprego mesmo quando está ganhando. Ou seja: os salários já levam embutidas as parcelas do aviso prévio e da indenização.

Negócios

Kleber tem qualidade, o Inter ganharia em mantê-lo para a Libertadores, mas está naquele momento da carreira que seria injusto privá-lo de uma transferência vantajosa. Douglas visivelmente quer sair do Grêmio, provavelmente pelo mesmo motivo. Acho que seria bom para ele e para o clube, que está formando um time mais veloz e combativo, mas a maioria dos torcedores ouvidos pela Gaúcha prefere que ele fique. Vá entender...

Nenhum comentário: