sábado, 24 de dezembro de 2011



24/12/2011 e 25/12/2011 | N° 16927
DAVID COIMBRA


O que as mulheres falam no bar

Estávamos numa mesa de bar, trinchando entrecots e assados de tira e linguicinhas parrilleras, e bebendo leite sem espuma, porque temos muito medo da Balada Segura. Éramos cinco em torno à mesa, e discutíamos sobre a humilhação que o Barcelona infligiu ao Santos e sobre como a Deborah Secco ficou sem graça com aquele cabelo curto. Foi então que alguém, se não me engano o Potter, filosofou:

– As mulheres não falam de futebol nem de mulher. De que então elas falam numa mesa de bar?...

De fato, intrigante. Um grupo de mulheres dentro de seus diáfanos vestidinhos de verão, o que elas falam depois do “ai, amiga”? Quais são seus interesses?

Existe uma pista que é fornecida por nós mesmos, nós homens. É a seguinte: consulte a sua alma, o seu interior mais profundo, consulte os seus instintos mais primevos e responda: quando você não conhece uma mulher, o que deve dizer ao abordá-la?

Se você fez essa pergunta ao cerne do seu ser, se você foi sincero consigo mesmo, respondeu que é simples: deve-se dizer a ela que ela é de gêmeos:

– Me diga, garota, você é de gêmeos, não é?

Por que isso? Bem. Em primeiro lugar, você tem um 12 avos de chances de acertar. Aí, gol do Brasil. Mas se ela miou de volta:

– Não... Sou aquário...

Neste caso, você insiste, com convicção:

– Então o seu ascendente ou a sua lua são de gêmeos. Têm de ser!

Note que suas chances de acertar aumentaram, mas, se ainda assim você tiver errado, se ela disser que não, que a lua dela é touro e o ascendente escorpião, saia-se assim: em primeiro lugar, exclame:

– Uh! Escorpião é fogo!

Por algum motivo, escorpião é fogo. As pessoas sempre dizem isso. Logo, se você também disser, passará a imagem de entendido em astrologia. Porém, não fique por aí, você precisa argumentar a respeito do palpite do gêmeos. Arremate, com autoridade:

– Achei que você fosse de gêmeos porque estava observando-a e vi como você se comporta.

Ela vai ficar curiosa:

– Por quê? Como me comporto?

Chegou a hora do grande lance. Encha os pulmões e dê a estocada:

– É que você não me parece só uma, entende? Você parece duas. Você está aqui, nessa festa, sorrindo de forma tão encantadora para todo mundo, tão meiga, tão linda, e, ao mesmo tempo, noto que você está observando a tudo e a todos. Que você sabe o que está ocorrendo a sua volta, entende?

Que você tem um senso crítico aguçado. Me parece que há duas mulheres dentro desse vestido esvoaçante, ou talvez até mais: uma que é doce, outra que é fera; uma que afaga, outra que arranha; uma que quer saber o que vai acontecer aqui, nesta noite, e outra que quer sair correndo e voltar para o seu cantinho, sozinha, tranquila, sem ninguém que a incomode. É isso. É por isso que você parece ser de gêmeos. Porque você é muitas.

Se você souber desenvolver bem o discurso, é certo que ela no mínimo ficará interessada em ouvir mais. Aí, depende de você, garotão.

Certo. E por que você tem convicção de que essa conversa dará resultado? Porque, no íntimo, você sabe pelo que as mulheres se interessam: por elas mesmas.

Pense nas grandes escritoras do mundo. Escreveram sobre suas experiências ou sobre elas mesmas, seus sentimentos, suas almas atormentadas, bibibi. Mulheres, em geral, não fabulam, porque o que elas estão sentindo é muito mais importante do que o resto da Humanidade, o planeta, o Universo, as baleias etc. Elas são mais importantes até do que a forma como o Barcelona envolve o adversário. Nós aqui, ficamos debatendo, na nossa insignificância: o Barcelona é mesmo revolucionário? É mesmo um fenômeno?

Ou será que o jogo do Barcelona não era o jogo do Brasil de antes dos anos 70, com Caju tocando para Rivelino, Rivelino tocando para Zico, Zico tocando para Marinho Chagas, Marinho Chagas tocando para Clodoaldo, Clodoaldo devolvendo para Rivellino, que aplicava um elástico do tamanho de um parquê, engatilhava a canhota, mandava um tiro de bazuca e fazia o gol? Tenho a impressão de que o Brasil jogava assim, que o Flamengo de Andrade, Adílio, Zico e Tita jogava assim. Isso faz diferença.

Mas não para uma mulher. Para uma mulher, só o que importa é o que ela traz por dentro. E, olha, ela está certa. O que vai na alma é muito mais importante do que o que acontece no mundo exterior. Fazem bem as mulheres em se preocupar com suas coisas. Mas que esse jogo do Barcelona já foi jogado no Brasil, ah, isso foi.

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