terça-feira, 27 de dezembro de 2011



27 de dezembro de 2011 | N° 16929
DAVID COIMBRA


Moscas, tigres e dinossauros

Para que existem moscas? Francamente.

Uma amiga minha, depois de três anos vivendo entre Escócia e Inglaterra, teve de voltar ao Brasil. Quando pisou em solo pátrio, o primeiro ser vivo que a tocou foi uma mosca. Desatou a chorar. A mosca, para ela, era um símbolo do nosso atraso tropical e católico.

Moscas. Os ecologistas dizem que tudo na Natureza tem a sua lógica e a sua função, que tudo está encadeado. Assim, as aranhas serviriam para comer as moscas. Não fossem as aranhas, haveria superpopulações de moscas, as moscas tomariam conta da Terra.

Mas e se não existissem moscas? Se elas simplesmente desaparecessem, como desapareceram as mulheres que sabem fazer nhoque? Neste caso, não precisaríamos de aranhas, que amiúde são peçonhentas. Estaríamos livres de dois inconvenientes ao mesmo tempo: as chatíssimas moscas e as ameaçadoras aranhas. Perfeito.

Esse negócio de que a Natureza é sábia e deve ser preservada eternamente como está é uma balela. Milhares, milhões de espécies foram extintas e não fazem a menor falta. A minha curiosidade em conhecer um pássaro dodô é a mesma de conhecer um chester: nenhuma. Agora, se há 65 milhões de anos existissem ecologistas, eles estariam tentando preservar os dinossauros e os pterodátilos.

Imagine os gastos de uma reserva para dinossauros. Rondônia já é quase toda dos índios, teríamos de deixar uns dois Matos Grossos para os dinossauros. E vez em quando eles escapariam para as cidades e fariam estragos de um Godzilla em Tóquio, amassando carros, derrubando prédios, mastigando pessoas. Não. Muito melhor os dinossauros estarem bem extintos.

Além do mais, quem garante que não foi melhor para os dinossauros aquele fim nobre, um meteoro caindo sobre o México, fazendo o eixo do planeta se deslocar e abatendo-os todos rapidamente num grande cataclismo? Talvez tenha sido mais digno do que a decrepitude inevitável por que passam os seres longevos.

Schopenhauer defendia a extinção da espécie humana como a única forma de escapar ao sofrimento existencial. A extinção como salvamento. O ideal, para ele, era que cessássemos com nossa ilógica ânsia reprodutiva. Parássemos de ter filhos.

Em pouco tempo, a Humanidade atingiria um fim suave e, com o fim da Humanidade, findaria a dor. Um ótimo plano. Mas, enquanto não é levado a cabo, por que continuar a conviver com moscas? Vamos acabar com elas! Danem-se os ecologistas.

Que herdem o planeta apenas os que o merecem, aqueles que são elegantes, como os felinos em geral, e em especial os tigres, com sua independência feroz e altaneira; os tipos alegres, que não se levam a sério, como os macacos de quaisquer tamanhos, sobretudo os chimpanzés; os emotivos cachorros, principalmente os de grande porte; os cavalos e sua fidalguia orgulhosa; os passarinhos chilreantes; os peixes silenciosos, com destaque para o saboroso bacalhau; e até uma ou outra baleia, desde que não se aproxime muito da costa.

Quanto aos insetos, míseros bichos de seis pernas, livremo-nos deles.

“Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil”, proclamava Saint-Hilaire no século retrasado. Hoje seria vilipendiado pelas redes sociais. Sabia, Saint-Hilaire, que alguns não merecem sobreviver. A saúva. A mosca. E os técnicos mal-educados.

Não servem para nada, os técnicos de futebol grosseiros, que mal sabem se expressar na última flor do Lácio inculta e bela, que estão sempre emburrados e que ganham centenas de milhares de reais por mês. Que sejam extintos todos, junto com as moscas, até que enfim realizemos o plano de Schopenhauer.

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