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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
Pasquale Cipro Neto
'Mentir para ele é mau negócio'
Questões que tratam de ambiguidade quase sempre são formuladas sobre frases descontextualizadas, livres
O jogador Adriano, do Corinthians, é novamente personagem de uma história complicada. É claro que não vou me ocupar do fato em si, que não me diz respeito e não me interessa nem um pouco. Vou me ocupar do que disse o delegado que cuida do caso.
Em entrevista a uma emissora de TV, o policial disse mais ou menos isto, antes do depoimento que Adriano daria horas mais tarde: "Mentir para ele é mau negócio". O delegado disse a frase numa tacada só, sem pausas antes e depois de "para ele".
A situação em si tornava um tanto descabido entender que o delegado queria dizer que o mau negócio seria mentir para Adriano, mas o que ele disse foi exatamente isso.
O que deveria ter dito então o delegado ou como deveria ter se expressado para que a sua afirmação se encaixasse no contexto, ou seja, para transmitir a ideia de que, se mentisse, Adriano faria mau negócio? As possibilidades são muitas, a começar pela que indiretamente já mencionei: fazer pausa antes e depois de "para ele".
Mas essa talvez não seja a melhor solução, tanto na fala quanto na escrita (convém dizer que na escrita isso seria representado por duas vírgulas: "Mentir, para ele, é mau negócio"). A melhor solução seria pôr para correr a expressão "para ele": "Para ele, mentir é mau negócio"; "Mentir é mau negócio para ele"; "É mau negócio para ele mentir"; "Mentir é, para ele, mau negócio".
O fato é que, nas frases que transmitem o sentido efetivamente desejado pelo delegado, a expressão "para ele" não se prende sintaticamente ao verbo "mentir", mas à expressão "mau negócio", por isso, quando se põe a expressão "para ele" imediatamente depois do verbo "mentir" (sem as pausas), o sentido se altera.
Agora esqueçamos o contexto e pensemos numa daquelas questões de vestibular que pedem ao candidato que identifique a frase em que há ou em que não há ambiguidade. Se uma das frases que efetivamente traduzem o que o delegado queria dizer estivesse numa das alternativas dessa suposta questão, como se deveria agir?
Vamos pegar, por exemplo, a construção "Para ele, mentir é mau negócio". Pois bem, sempre levando em conta que a frase viria solta, descontextualizada, você diria que ela é ambígua, ou seja, diria que ela tem mais de um sentido?
E então, caro leitor? Já pensou? É ambígua ou não é? É. Um dos sentidos é o que já foi discutido. E o outro? O outro é simples: na opinião dele (seja lá quem for esse "ele"), mentir é mau negócio.
Não se trata de afirmar que Fulano faria mau negócio se mentisse ou fará mau negócio se mentir, mas de afirmar que na opinião de Fulano mentir é mau negócio (é mau negócio para quem quer que seja ou para determinada pessoa ou situação de que se esteja falando).
Mais ou menos frequentes, essas questões que tratam de ambiguidade quase sempre são formuladas sobre frases descontextualizadas, livres, postas em alternativas de questões de múltipla escolha ou mesmo em questões discursivas, como fez a Fuvest há um bom tempo a respeito da seguinte frase: "Vi uma foto sua no metrô".
A banca pediu aos candidatos que dessem ao menos dois dos significados da frase.
E então? Já sabe? Os dois significados que me parecem mais evidentes são estes: a) vi uma foto em que você estava no metrô; b) vi, exposta no metrô, uma foto de sua autoria, ou seja, tirada por você. Existem outras possibilidades, que deixo por sua conta, caro leitor. É isso.
inculta@uol.com.br
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