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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
19 de dezembro de 2011 | N° 16922
NÍLSON SOUZA | INTERINO
A lição de Guardiola
Neymar teve apenas um momento de brilho ontem. Depois do jogo, ainda com o abatimento estampado no rosto, ele afirmou:
– Aprendemos uma lição de futebol.
Brilhou pela humildade, pelo reconhecimento à superioridade desta verdadeira revolução de futebol que é o Barcelona de Pep Guardiola. Mas equivocou-se no verbo. Mais adequado teria sido dizer:
– Recebemos uma lição de futebol...
Se aprendemos – nós, brasileiros, e não apenas o Santos –, é o que veremos nos próximos anos, até a Copa. Tudo vai depender da forma como reagirão nossos treinadores, nossos atletas e todas as pessoas que se interessam por aperfeiçoar o futebol. Podemos, simplesmente, tentar copiar o futebol total do Barcelona, mas aí correremos o risco de fazer cópias malfeitas, sem o talento operário de um grupo de jogadores preparado para jogar com uma solidariedade coletiva como nunca se viu.
Isso sem considerar a qualidade individual de Messi, Xavi, Iniesta e outros mais. Podemos, também, continuar achando que basta encontrar o esquema tático adequado, pois craques temos de sobra. Isso, sim, seria um equívoco. A lição do Barça é outra e pode ser resumida numa frase de Guardiola.
– Perdemos muito, antes de aprender a ganhar.
Paradigma
Tanta coisa já foi dita sobre esse Barcelona que quase não deixa o adversário tocar na bola que, para não ser repetitivo, vou citar uma história que sempre me impressionou muito. Os suíços dominavam o mercado mundial de relógios. Fabricavam os mais precisos, os mais sofisticados, os mais confiáveis.
Quando um suíço inventou o relógio digital, os fabricantes menosprezaram a invenção. Então, segundo se conta, os japoneses desenvolveram a ideia, passaram a fabricar relógios mais práticos e baratos – e a indústria suíça quase foi à falência, com demissões em massa. Isso se chama mudança de paradigma.
O Barcelona, como a Holanda de 74 e 78, é uma mudança de paradigma no futebol. E ganha.
Críticas
Como criticar faz parte de nossa cultura, já ouvi e li vários comentários desancando o pau em Muricy, que teria colocado em campo uma esquema ou uma formação pouco treinados. Ora, Mourinho, uma semana antes, colocou em campo o seu melhor Real Madrid, treinado e ensaiado. E levou três do Barça.
O Santos fez o que dava para fazer.
Chaleira
Qualidade individual pesa – e muito. Aquela dominada de Xavi antes do primeiro gol de Messi merece ser reprisada em câmara lenta nas aulas de técnica de futebol. Poderia servir também de argumento para os responsáveis pelas “peneiras” de garotos na hora da dispensa. Em vez de dizer ao menino que ele foi reprovado, o treinador poderia pegar mais leve e recomendar:
– Volte quando você aprender a fazer isso.
Estatística
Já foi por demais badalado que o Barcelona teve 71% de posse de bola e o Santos apenas 29%. Mas o dado mais impressionante talvez nem seja este e sim o dos passes certos e errados. Xavi deu 110 passes e acertou todos. Iniesta deu 101 e errou apenas um. Ninguém é perfeito.
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