segunda-feira, 26 de dezembro de 2011



26 de dezembro de 2011 | N° 16928
PAULO SANT’ANA


A arte de escrever

Pensara que tinha aprendido a escrever com a idade de 24 anos, quando entrei para a Polícia Civil e fui servir em Tapes, onde desempenhei a função de escrivão de polícia por três anos.

Então, eu não só tomava o depoimento de vítimas, indiciados e testemunhas, como também vertebrava os inquéritos e construía os relatórios que o delegado de polícia enviava para a sede da comarca.

Naqueles relatórios, lembro-me bem, eu já fazia alguma literatura, narrando o tipo criminoso que havia sido cometido e o resultado das investigações respectivas.

Eu achava até ontem que foi assim que aprendi a escrever.

Mas não foi, só ontem dei-me conta disso.

Anos passados, conversando comigo, o presidente da RBS, Nelson Sirotsky, perguntou-me intrigado: “Mas onde afinal tu aprendeste este português que usas na tua coluna?”.

Eu não soube responder. Mas um fiapo daquela que deveria ser minha resposta descobri-o ontem.

É que me lembrei que, 13 anos antes de servir de escrivão de polícia, com a idade de 11 anos, fui designado pelo padre Paulo Scopel, pároco da Capela do Sagrado Coração de Jesus, que deu lugar à hoje Paróquia de São Jorge, no Partenon, secretário da Ação Católica infanto-juvenil.

E era então eu que escrevia as atas das reuniões da Ação Católica.

Logo, foi assim, com 11 anos de idade, que aprendi a caprichar com o português.

Eu, embora não fosse cobra criada, já devia ter uma boa expressão, não foi por nada que o padre Scopel me designou entre os outros meninos para escrever as atas.

Dos 11 aos 20 anos de idade, eu fui um aprendiz de poeta.

Lembro-me que, com 14 anos de idade, comecei um soneto cujo texto total esqueci, mas guardo ainda o primeiro quarteto:

Numa gaiola triste e solitário

Soltando gorjeio não mais feliz

Vive o passarinho seu calvário

Porque um desgraçado assim

o quis.

Para 14 anos de idade, está bem, não, meus leitores e leitoras?

Pois foi assim que aprendi a escrever. Li e decorei durante toda a infância e juventude todo o livro do poeta paraibano Augusto dos Anjos.

Ou seja, decorei inteiramente cem páginas de poesia, que as tenho ainda decoradas quase que por inteiro em minha memória, hoje ainda, queridos leitores.

Desta forma, lendo também afanosamente outros poetas, não foi difícil para mim aprender a arte de escrever.

Arte para mim pode ser demais, mas pelo menos o bom manejo ao escrever.

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