sábado, 17 de dezembro de 2011

O seu, o meu e o nosso

Chega de romantismo. Oito dicas para manter um casamento com amor e, principalmente, prosperidade

MAURO SILVEIRA, COM DANIELLA CORNACHIONE


(Foto: Rodrigo Schmidt/ÉPOCA, ilustração Samuel Rodrigues e agradecimentos Alfaiataria Persona, V.R., MOB e Capodarte)

Cerca de 2 mil brasileiros se casam todo dia. A partir do momento em que ingressa na vida a dois, cada uma dessas pessoas começa a fazer uma ousada experiência, e não só emocional.

Um casamento pode facilitar ou dificultar a realização de qualquer desejo ou projeto pessoal. Alguns casais deslancham: atuam em dupla, somam as inteligências e tomam decisões melhores à base de muita conversa e respeito intelectual mútuo. Outros casais se tornam menos que a soma das duas partes: afundam em impasses, sabotagem mútua e, eventualmente, separações destrutivas.

O poder do casamento, tanto para multiplicar quanto para destruir riqueza, foi medido em 2005 por um estudo da Universidade Ohio, nos Estados Unidos, que acompanhou 9 mil pessoas durante 15 anos. Tratando-se de prosperidade média, a análise mostrou três grupos bem definidos: no meio, os que permaneceram solteiros, que enriqueceram de forma lenta e regular.

Num extremo ruim, os que casaram, tiveram uma má experiência e se separaram. Eles perderam, em média, 77% do patrimônio, ao longo de um período de anos antes e depois da separação.

No outro extremo, os que casaram e permaneceram casados – eles acumularam, na média, 93% mais riqueza que os solteiros. O estudo não explicou se os casamentos bons e duradouros tornam as pessoas mais prósperas. Ou vice-versa: se a prosperidade faz o amor durar. ÉPOCA consultou especialistas, pesquisadores e casais para saber como fazer seu casamento durar e prosperar.

1. Conversar sobre projetos e dinheiro não mata o romance

Dinheiro é apenas um meio para realizar fins, mas casais têm dificuldade para tratar do tema. As jornalistas de economia americanas Paula Szchuman e Jenny Anderson, para escrever o livro Spousonomics (sobre a aplicação de princípios econômicos aos relacionamentos), ouviram casais de várias regiões dos Estados Unidos. Eles também encontraram evidências de dificuldade de comunicação: 42% dos casados disseram já ter escondido informações financeiras importantes do parceiro. Entre os motivos alegados estão a vergonha e o medo de provocar uma discussão.

Se quiser evitar esse tipo de zona proibida nas conversas em seu casamento, não é bom policiar os gastos do outro – um erro comum e gerador de conflitos, principalmente entre casais jovens, segundo o psiquiatra Luiz Cuschnir, chefe do grupo de estudos de gênero do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Um jeito mais produtivo de os dois se acostumarem com esse tipo de conversa é partir dos temas mais simples, como os gastos fixos da casa, para depois chegar aos mais complexos, como investimentos e projetos de longo prazo.

Um estudo feito pela Universidade Brigham Young, nos Estados Unidos, avaliou a qualidade dos relacionamentos, mas no aspecto financeiro, entrevistando 1.734 casais. Em vez de avaliar a situação dos casais, a pesquisa limitou-se a perguntar quão importante eles consideram o dinheiro.

Quem respondeu que o dinheiro era muito importante também foi mal em uma série de indicadores de felicidade conjugal. Os pesquisadores concluíram que os casais “dinheiristas” têm pior relacionamento. Outra conclusão possível é que os casais que dão muita importância ao dinheiro são justamente os mais quebrados, e também os mais infelizes.

2. Comece a aprender logo no namoro

Os sinais emitidos pelo parceiro durante o namoro sobre como ele lida com dinheiro podem ter parecido pouco importantes, entre todos aqueles beijos, mas estavam lá. Quando o assunto é organização financeira, o outro também formou um jeito de ser ainda na infância. É difícil para os apaixonados em começo de relacionamento tratar de hábitos de consumo e investimento. Num relacionamento saudável, esse tipo de conversa deve se tornar progressivamente mais fácil.

A psicóloga Cleide Guimarães recomenda que o enamorado se faça algumas perguntas, se estiver disposto a avançar no relacionamento. Algo relacionado a dinheiro me incomoda na família do outro? O namorado (ou namorada) se comporta como a família? O que gostaria de mudar nela ou nele? Aceitaria mudar por ela (ou ele)? Respostas francas ajudam a definir o rumo, os termos e as expectativas do casamento.

3. Crie espaços: o seu, o meu e o nosso

Somar os ganhos individuais e decidir em comum acordo como usar o dinheiro. Esse é o modelo preferido de administração doméstica para 61% dos casais britânicos participantes de um estudo da psicóloga Stefanie Sonnenberg, da Universidade de Portsmouth. Para 18% dos casais, é preferível contribuir com quantias iguais para as despesas comuns e manter relativa independência. Stefanie não defende um modelo.

Outros especialistas recomendam a criação de três espaços para o dinheiro: um comum e um para cada cônjuge. O bolo comum serve para pagar contas da casa, juntar dinheiro para projetos de ambos e fazer tipos de investimentos que não estariam ao alcance dos dois separadamente.

As contas separadas servem para bancar pequenas compras individuais, emergências futuras e ao menos parte da aposentadoria de cada um. A organização dá trabalho, mas vale a pena. Ninguém pode abrir mão da segurança individual (não é razoável viver na suposição de que o casamento vai durar para sempre) e renunciar totalmente à independência financeira pode ser muito frustrante.


(Foto: Rodrigo Schmidt/ÉPOCA, ilustração Samuel Rodrigues e agradecimentos Alfaiataria Persona, V.R., MOB e Capodarte)

4. Em vez de tentar mudar o outro, faça acordos

É muito difícil (não impossível) mudar a maneira de uma pessoa lidar com o dinheiro. Essa parte da personalidade parece ser formada na infância. Por isso, tentar transformar radicalmente o parceiro gastador ou sovina pode trazer mais brigas que resultados. Em vez disso, experimente fazer acordos.

Com a devida dose de conversa, o casal pode chegar a combinações satisfatórias específicas para gastos, organização e investimentos. O consultor financeiro Gustavo Cerbasi, autor de Casais inteligentes enriquecem juntos e colunista de ÉPOCA, diz que ter sonhos comuns facilita o respeito aos compromissos financeiros combinados a dois.

Como realizar grandes sonhos, da casa própria à criação dos filhos A fórmula para garantir uma aposentadoria com bastante conforto

5. Envolva os filhos desde cedo - e dê o exemplo
Os parceiros precisam decidir como vão educar as crianças nesse assunto – e devem estar cientes de que filhos sem educação financeira ou que recebem dos pais mensagens muito desencontradas tendem a criar mais problemas para o casal no futuro. Trata-se de um belo desafio, pois a própria chegada dos filhos tende a dificultar o equilíbrio do orçamento.

6. Ajuste o "contrato" ao longo dos anos

O que valia quando os dois tinham 30 anos pode não ter mais sentido quando chegarem aos 40. Há mudança de renda, novas necessidades, novos rumos dos projetos antigos e também novos projetos. O casal deve checar o que continua válido no acordo e pensar se precisa mudar seus hábitos. “Refazer o contrato fortalece o lado emocional, renova os laços do casamento e demonstra que a confiança mútua está fortalecida”, diz a psicóloga Cleide Guimarães.


(Foto: Rodrigo Schmidt/ÉPOCA, ilustração Samuel Rodrigues e agradecimentos Alfaiataria Persona, V.R., MOB e Capodarte)

7. Tenha sonhos de curto, médio e longo prazo
Os projetos ambiciosos dão muita satisfação a quem chega lá, mas pode ser frustrante perseguir apenas objetivos distantes. “A vida financeira dos dois não pode se basear só no sacrifício do presente em nome do futuro”, afirma o psiquiatra Luiz Cuschnir.

O casal tende a ser mais feliz se valorizar pequenas viagens e melhorias na casa, enquanto segue para os voos mais longos, como comprar a casa dos sonhos ou morar um período no exterior (leia mais a respeito). “Ao realizar os objetivos mais simples, os dois se sentirão animados a perseguir as metas maiores”, afirma Cerbasi.

8. Seus "ex" têm muito a ensinar
Pensar nos relacionamentos que terminaram pode ser doloroso, mas é útil. Aprenda com os erros do passado. A psicóloga americana Deborah Price, autora do livro Terapia da riqueza, diz que as pessoas evitam pensar a respeito porque o custo financeiro e emocional das separações é devastador.



Mas esse processo doloroso costuma ensinar muito sobre o que não fazer. Um novo relacionamento deve admitir um novo sistema de gestão do dinheiro, novos compromissos, novas formas de conversar. E, a melhor parte, uma total reciclagem dos sonhos a realizar.

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