sábado, 17 de dezembro de 2011



18 de dezembro de 2011 | N° 16921
PAULO SANT’ANA


O chato do turfe

No local em que assisto às corridas de turfe do mundo inteiro, pela televisão, na Rua 24 de Outubro, sempre me aborda, há um ano, o mesmo chato.

Ele puxa conversa comigo em 10 ocasiões do dia. Durante um ano sendo chateado por um sujeito, 10 vezes por dia, torna-se insuportável.

Foi então que decidi na semana passada dar um ultimato ao chato: “Pelo que vejo, o senhor vai continuar a me abordar 10 vezes por dia, toda vez que eu vier aqui. Tudo bem. Só que, de hoje em diante, o senhor terá apenas um minuto para falar comigo. O senhor vai começar a falar comigo, nas 10 vezes por dia, mas eu vou ficar olhando para meu relógio. Quando se completarem os 60 segundos, eu me afasto do senhor”.

O chato concordou com cara de quem se lastima, e foi dito e feito. Ele continuou me abordando 10 vezes por dia e, em todas elas, eu encerrava o papo depois de um minuto de duração e me afastava repentinamente do chato.

Só que, quando chegou na 10ª vez e eu encerrei o papo dele no 60º segundo, o chato me deteve e implorou: “Doutor Sant’Ana, não dá para o senhor, nas 10 vezes em que lhe abordo, prorrogar o meu prazo por um minuto e meio?”.

Entrei sexta-feira num restaurante das proximidades da Rua Coronel Bordini, junto com um amigo. Não conhecia o restaurante e arrisquei, pedindo um espaguete à carbonara. Veio a massa e estava intragável.

Todas as pessoas que se aventuram a abrir restaurante em Porto Alegre presumem que é fácil fazer massa. Nada disso, cozinhar massa é uma ciência, tem segredo, não é qualquer um que serve massa apetitosa.

Então, eu não comi o espaguete à carbonara, estava muito ruim, a cozinheira nunca tinha passado perto de alguém que soubesse preparar massa.

Mas eu estava com fome. Lembrei-me na hora de um ditado: o de que qualquer prato em que se atirar um ovo estrelado em cima fica bom.

E pedi uma porção de arroz com três ovos estrelados.

Estava uma delícia, é óbvio.

A mais perigosa arma que existe é um cronista sem assunto. E a segunda arma mais letal é quando um cronista escreve que um restaurante é ruim. Cronista como eu, que tem leitura total em seu jornal e comunidade e escreve que um restaurante serve comida ruim, pronto, o restaurante esvazia para sempre e desgraça seu proprietário.

Por esse motivo é que não estou citando o nome do restaurante fatídico das imediações da Bordini, tentando dar-lhe uma nova oportunidade.

Mas aconselho aos restaurantes novos que não arrisquem em preparar espaguete à carbonara, é um prato difícil de fazer, tentem outras sugestões.

O espaguete à carbonara das imediações da Rua Coronel Bordini estava uma catástrofe.

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