segunda-feira, 26 de dezembro de 2011



26 de dezembro de 2011 | N° 16928
ARTIGOS - Cláudio Brito*


Um dia depois

O Natal já passou, hoje é segunda-feira e uma pergunta gostaria de ver respondida, com clareza e sinceridade: quem foi o personagem principal, Cristo ou o Papai Noel?

Não vale dizer que seu protagonista reuniu um pouco de cada um. Dizer nenhum também não vale. Não creio que exista alguém tão refratário ou insensível que seja neutro ou frio ante as comemorações de fim de ano. Aceito até que se diga não gostar dessa época, por tristeza, solidão ou mau humor, mas não é verdade que o Natal seja apenas mais um dia no calendário.

Um padre me disse que a Páscoa é maior, mexe mais com os sentimentos dos cristãos. O Natal teria a marca da esperança, a Páscoa tem o timbre da vitória sobre a morte.

Um psiquiatra afirmou que o período é de fantasia e euforia, faz voltarmos à infância e isso pode trazer alguma frustração posterior.

Um jornalista indagou-me sobre o rumo a seguir neste escrito e a meta pretendida com minha reflexão. Um sociólogo abordou o tema pelo viés dos fenômenos de massa e construiu a tese de que muita gente embarca no turbilhão natalino sem muito pensar, vai de roldão.

O querer bem, sem olhar a quem e o bem pensar, sem maldade ou reticências, eis as recomendações de um psicólogo para um bom e produtivo Natal.

Um senhor já avançado na idade me disse que o Natal deste ano foi o maior e melhor de sua vida. Maior, porque durou quase uma semana. Melhor, porque foi o que lhe trouxe mais alegria. Contou-me que, carregando bolas de futebol e bonecas em seu carro, percorreu a Avenida Ipiranga três dias e duas noites.

Onde encontrou crianças, nos cruzamentos, calçadas e perto de outros cantos usados como abrigo, deu bolas para os guris e bonecas para as gurias. Jura que viu os sorrisos mais lindos de sua vida.

E chorou ao lembrar da menina que abraçou a boneca sem expressar qualquer emoção. Apenas olhou para aquele homem bondoso, apertou junto ao peito o presente e retirou-se. Meu amigo ainda pensa a respeito e me ajuda na conclusão. Não importa quem tenha sido o destaque do Natal de cada um. Cristo ou Papai Noel?

Há lugar para os dois em seu coração e em seu comportamento?

Já disse que não vale combiná-los para uma resposta em fuga, mas é claro que Cristo e Noel coexistem, tem cada um seu espaço e momento. O que vale é percebermos quanto um gesto e um olhar representam e nos bastam.

Então saberemos que Cristo e o bispo São Nicolau, que inspirou a criação da figura de Noel, foram homens como nós. A dimensão humana do divino, ou a divindade do homem? O que importa? Um dia depois é mesmo possível dizer que foi um grande Natal, de pensamento e de atitude.

*Jornalista

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