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sábado, 17 de dezembro de 2011
17 de dezembro de 2011 | N° 16920
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES
As mãos abençoadas por Deus
Todo médico digno é um santo. É um mágico. E um sacerdote, exorcizador de fantasmas. Tantas vezes se enfrentou cara a cara com a Morte que aprendeu a não temer.
O Dr. Cyro Leães é um médico digno dessa profissão. Nascido no Alegrete e filho de médico, foi guri campeiro que, nas primeiras folgas dos livros e do colégio, fugia para a Campanha com os primos e amigos, companheiros de aventuras campeiras. Voava no lombo dos cavalos e até a laçar aprendeu.
Seu pai era a sua grande inspiração: médico humanitário, ilha de sabedoria e cultura no Alegrete provinciano, modelo e exemplo para a juventude inquieta que procurou sempre emular e estimular. O Dr. Cyro pai tinha uma ampla e generosa biblioteca e se atualizava constantemente.
Eu era um guri curioso quando ele me falou por primeira vez em Cezimbra Jacques e também num jovem diplomata brasileiro que se revelava um excelente poeta nos EUA chamado Vinícius de Moraes. Quer dizer, o Dr. Cyro Leães filho tem a quem puxar. A mãe dele era a dona Suzy, nossa professora de música e de canto, pessoa muito bonita e muito amável.
O filho queria seguir a carreira do pai – queria ser médico – e se mandou para Porto Alegre atrás de um sonho. Na época não era, como ainda não é fácil, ingressar na Faculdade de Medicina na UFRGS, mas vocação é vocação, e o moço entrou pela porta da frente.
Teve experiências em várias áreas da medicina social. Aprendeu a enfrentar a morte olhando-a nos olhos, e a morte tremeu de medo diante do jovem médico que arrancava as vítimas de suas garras. Em 13 de dezembro, a Câmara de Vereadores de Porto Alegre concedeu ao Dr. Cyro Alfredo Pinto Soares Leães o título de Cidadão de Porto Alegre.
O belo auditório da Câmara estava lotado. No comando da solenidade, o vereador Pedro Ruas, autor da proposta. Se ele tivesse perguntado quem dos presentes teve a sua vida salva pelo Dr. Cyro, muitas mãos se ergueriam. Eu mesmo teria que erguer as duas mãos, porque ele me salvou a vida duas vezes, quando todos já davam a luta por perdida, menos a Anitinha, a minha mulher.
Dr. Cyro transformou a herança poética do pai em outro tipo de poesia. Ele também belisca um violão, arranha um piano e sopra um saxofone. Entre amigos, sobretudo quando está junto do Bagre Fagundes, deixa por momentos de ser médico para ser um a mais numa roda onde tudo é poesia.
Seu austero perfil de sacerdote egípcio se suaviza e se ilumina ao lado da querida Flora, sua esposa, mãe de seus três filhos. Aquele guri que um dia nasceu no Alegrete agora é também cidadão de Porto Alegre sem perder a cidadania original.
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