segunda-feira, 12 de dezembro de 2011


Melchiades Filho

Que bonito é

BRASÍLIA - Ainda que o torcedor salive ante a perspectiva de Santos x Barcelona, Neymar participa de um campeonato mais longo e importante que o Mundial interclubes.

Há quase dois anos o atacante espanta novatos e nostálgicos com um futebol que vai além da técnica e da aplicação tática.

Em seu jogo, fantasia e eficiência se misturam, quando não se confundem. É algo que o brasileiro não via desde o auge dos Ronaldos, e com regularidade inédita desde Pelé: o brilho não diminui nem quando a partida nada vale, imune a botinadas dos marcadores, más arbitragens e tentações extracampo.

Neymar mostrou maturidade e rara visão de jogo, também, ao recusar a transferência para o exterior. Notou não só que a Europa atravessa grave crise econômica, mas que a Copa-14 deslocará para o Brasil o eixo de toda uma indústria.

Mais: embora se estranhem, a Fifa e o poder público estão amarrados ao destino do evento.

Isso tudo exigirá enorme esforço publicitário. A máquina rodará atrás de um rosto que fale a adultos e crianças, homens e mulheres, boleiros e torcedores de ocasião.

Neymar tem tudo para se dar bem no papel, ao contrário dos eleitos anteriores -Kaká era "clean" demais; Ronaldinho Gaúcho preferiu as delícias da privacidade; o Fenômeno, vítima de tantas contusões, só virou ídolo no país depois que embalofou e vestiu Corinthians.

O bacana: o santista destoa dos padrões de beleza dos craques do marketing, como Beckham e Cristiano Ronaldo. Mas já inspira meninos a (des)arrumarem o cabelo.

Seu sucesso terá um impacto estético. Justiça será feita a todo mulato magriça, que reconhecemos no office boy, no caiçara, em tantos jovens e anônimos trabalhadores.

Neymar joga para provar que o futebol é espetáculo, que o esporte pode dar certo no Brasil e, de quebra, que somos uma gente bonita.

melchiades.filho@grupofolha.com.br

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