terça-feira, 13 de dezembro de 2011



13 de dezembro de 2011 | N° 16916
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


No coração de Paris

Há lugares que é agradável visitar lá fora, mesmo que não estejam entre as grandes atrações do lugar. São simplesmente pontos em que você se sente bem com a vida e com o mundo. Duas reportagens me marcaram encontro com eles no outro fim de semana.

O caderno Donna, de Zero Hora, me reapresentou ao Harry’s New York Bar, de Paris, ou, mais simplesmente, o Harry’s Bar. Frequentei-o muitas vezes, no número 5 da Rue Daunon. O local, inaugurado há precisamente cem anos, tornou-se famoso nas décadas 20 e 30 do século 20. Entre seus habituês estavam Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway, mais o restante da Geração Perdida e adjacências. O Harry’s Bar continua firme e forte, com toda a tradição que construiu sua fama.

Já a revista Veja percorre a história de uma espécie mais frágil. Passam mal os pubs da Inglaterra. Diz a matéria que, sem público e sem dinheiro para pagar os salários dos empregados, 37 deles fecham as portas, em média, toda semana na terra da Rainha Elizabeth.

É uma pena, porque os pubs fazem parte da crônica histórica e literária do Reino Unido. “Uma caneca de cerveja é um prato de rei”, escreveu ninguém menos do que William Shakespeare.

Dickens ambientou parte de um de seus romances na Trafalgar Taverne. E os contos e romances de Somerset Maugham trazem alusões à centenária invenção, que decreta, além do fim de um hábito secular, uma ameaça a 2 mil marcas diferentes de cerveja que resistem no reino da Princesa Kate.

Tudo isso é, no fundo, mais um resultado da economia combalida pela crise avassaladora que assola a Europa, das severas leis antifumo e das mudanças nos hábitos de consumo de bebida.

Mas, como lembra Duda Teixeira em Veja, é preciso não esquecer que a inflação dos últimos quatro anos reduziu o poder de compra dos ingleses.

Mas nada muda uma realidade: os pubs não desaparecerão, apesar de todas as crises, e o Harry’s Bar seguirá sendo uma bandeira de bom gosto no coração de Paris.

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