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domingo, 25 de dezembro de 2011
Hélio Schwartsman
A mágica do Natal
SÃO PAULO - Imbuído de autêntico espírito natalino, arrisco hoje uma coluna sobre a mais popular festa da cristandade. Se há uma característica do cristianismo para a qual temos de tirar o chapéu, é sua visão de mercado.
É preciso ser bom para converter o que era uma dissidência de uma religião complicada e impopular como o judaísmo na fé mais seguida do mundo. E a construção da liturgia do Natal ilustra bem essa vocação mercadológica.
Nos primórdios, o cristianismo paulino valeu-se de elementos sincréticos que o ajudaram a difundir-se. O nascimento de Cristo, por exemplo, foi definido como sendo em 25 de dezembro porque nessa data ocorria uma festa muito popular à época, o nascimento de Mitra.
Também no dia 25, várias tradições, como a germânica e a céltica, exaltavam o solstício de inverno. Se as pessoas pudessem reconhecer elementos familiares no cristianismo, seria mais fácil fazê-las abraçar a nova fé.
Já o hábito de trocar presentes é uma herança das Saturnais romanas, festival que ia de 17 a 23 de dezembro no qual se pagava tributo a Saturno promovendo, entre outras coisas, orgias. A árvore e a decoração de Natal também são empréstimos de outras religiões.
Uma das razões da impopularidade do judaísmo, além da circuncisão e de tabus alimentares, era o fato de não aceitar as "verdades" religiosas dos outros. Enquanto gregos, persas e romanos podiam até celebrar as características comuns entre seus deuses, o Deus ciumento dos hebreus exigia exclusividade.
O cristianismo também possui um Deus único, mas, em elementos não centrais para a doutrina, soube negociar com outros povos. Roma não podia admitir o culto a Mitra, mas por que não ficar com o 25 de dezembro para celebrar o nascimento de Cristo?
O Vaticano não pode autorizar preces para Tutatis, mas por que não incorporar uma arvorezinha e uma guirlanda nas festas?
helio@uol.com.br
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