quinta-feira, 22 de dezembro de 2011


Kenneth Maxwell

Kim Jong-il e Vaclav Havel

Não se sabe muito sobre Kim Jong-il. Ele nasceu na União Soviética, em 1941 ou 1942. Seu pai, Kim Il-sung, comandava o 1º Batalhão da 88ª Brigada Soviética, formado por comunistas chineses e coreanos exilados. Sua mãe, Kim Lok-suk, ativista comunista, morreu de parto em 1949.

Kim Il-sung foi apontado pelos soviéticos em 1945 para a presidência do Comitê Popular Provisório da Coreia, e depois disso liderou a Coreia do Norte por 46 anos.

Kim Jong-il sucedeu o pai em 1994. Conhecido como "Querido Líder", comandava um regime comunista dinástico impiedoso, armado com bombas nucleares.

O ditador morto era infame por seu amor ao conhaque. Era o maior cliente mundial da Hennessy. Usava óculos grandes e de lentes escuras, salto alto e um penteado com topete. George W. Bush o chamou de "pigmeu".

Seu filho mais velho, e herdeiro presuntivo, foi exilado para Macau, na China, depois de ser detido tentando entrar no Japão com passaporte falso, a caminho da Disney World de Tóquio.

A sucessão por seu terceiro filho, Kim Jong-un, um jovem na casa dos 30 anos e com apenas um ano de treinamento no governo, é vista com medo e apreensão pelos vizinhos da Coreia do Norte e em Washington. A Coreia do Norte só tem um aliado, a China. Os riscos são evidentes.

Vaclav Havel também morreu. Mas era um homem de espécie muito diferente. Dramaturgo na Tchecoslováquia da era comunista, jamais foi agente da ditadura, e sim seu maior inimigo.

Tratado como "inimigo de classe" depois da tomada do poder em seu país pelos comunistas, Vaclav Havel se viu forçado a deixar a escola aos 15 anos e não pôde se matricular na universidade. Mas suas peças ofereciam crítica vigorosa e irônica aos anos sombrios da repressão.

Aprisionado depois que tanques russos esmagaram a Primavera de Praga, em 1968, ele foi um dos fundadores do grupo Carta 77 e, em 1989, liderou as demonstrações de massa pacíficas da Revolução de Veludo, que puseram fim ao domínio comunista.

Havel se tornou presidente da Tchecoslováquia, promoveu uma reaproximação com a Alemanha e comandou o "divórcio de veludo" entre a República Tcheca e a Eslováquia.

Não foram tarefas fáceis para ele. No entanto, nos tempos sombrios em que vivemos, a escala e a força moral dessas realizações costumam ser esquecidas. A Europa se reintegrou. E boa parte do crédito por isso cabe a Havel, que praticou aquilo que definia como "a arte do impossível, ou seja, a arte de melhorar a nós mesmos e ao mundo".

Um legado muito superior ao de Kim Jong-il.

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna

Nenhum comentário: