sexta-feira, 23 de dezembro de 2011



23 de dezembro de 2011 | N° 16926
PAULO SANT’ANA


Sonhos para o verão

Aproxima-se o fim do ano e eu me atrapalho e me constranjo com essas datas festivas.

Além disso, para mim é uma encrenca tentar planejar férias. Não tiro férias há muitos anos. Não sei se os leitores notam que, até quando porventura eu viaje, escrevo minha coluna.

Tenho vontade de parar e descansar. Mas como escapar de escrever minha coluna? Faz parte do meu metabolismo existencial escrever esta coluna.

Esses dias, eu disse vaidosamente ao Marcelo Rech que sou talhado para escrever em Zero Hora. Falei que meu tipo (inesquecível) tornou-se de tal forma intrínseco a ZH, que talvez fosse quase impossível ler ou assinar este jornal sem a minha presença.

Embriagado, assim, por essa febril megalomania, não consigo me afastar desta coluna para tirar férias.

Chegou a tal ponto esse delírio, que, durante os 50 dias em que fui submetido a 50 sessões de radioterapia, por vezes cruenta por seus paraefeitos devastadores, nunca deixei de escrever esta coluna, fato inédito na história de trabalhadores que tiveram câncer.

Então, eu fico com vontade de ir em janeiro ou fevereiro a Jurerê. Como sabem, sonho em me banhar nas águas cálidas daquela estupenda praia.

Sonho também em ir a Punta del Este, olhar aquele fenomenal Rio da Prata, em Punta ele é o único rio de cor azul que já vi em toda a minha vida. Passear pelas calçadas da Costa Brava, comer aquele nhoque gratinado divino no Lo De Tere, tomar o café da manhã mais farto do planeta no Konrad e fazer minha fezinha nas maquininhas do cassino.

São apenas sonhos e oxalá sejam realizados.

Se eu pudesse, daria um pulo em Garopaba e me refestelaria com meus netos Gabriel, Pedro e Luca, com meu genro Sérgio Wainer, sobrinho-neto do grande Samuel Wainer de Última Hora, com minha nora Clarice, com meus filhos Fernanda, Jorge e Ana Paula, torcendo para que a água do Atlântico em Garopaba estivesse quente, o que por vezes acontece.

São apenas sonhos, devaneios de um coroa que teima em não se aposentar, muito menos por denodo do que por talento e necessidade financeira.

Ah, há também os sonhos inatingíveis, como, por exemplo, poder viajar a Las Vegas e assistir àqueles shows noturnos estupendos, depois tentar a sorte na roleta.

Ou, então, ir deitar numa rede numa das praias paradisíacas das Ilhas Seychelles ou Maurícios. Estes sonhos são muito distantes, praticamente inviáveis.

Melhor seria voltar deliciosamente ao passado e retornar a Tapes e mergulhar na praia da Lagoa dos Patos, no Balneário Rebello, e ir comer uma costela gorda de terneira morta na hora na estância do Scherer.

Ou reviver minha mocidade em Tapes, almoçando e jantando todos os dias como pensionista do Restaurante da Dona Mira, tomando banho sôfrego na tardinha de sábado para ir correndo à noite até a boate do Clube Aliança, onde me esperavam para dançar cerca de – não é exagero – 20 garotas solteiras que ansiavam por se casar comigo.

Ah, como eu fui feliz em Tapes.

Nunca mais!

Nenhum comentário: