Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
30 de dezembro de 2011 | N° 16932
DAVID COIMBRA
O que o povo quer
O Diogo Mainardi diz que prefere ter um filho drogado a ter um filho tuiteiro. Eu não chegaria a tanto, mesmo sabendo que o tuíter é aplastante. Apenas pretendo insistir com o meu guri:
– Faça um esforço: tente ler mais de 140 caracteres de uma vez. Tente!
Mas, reconheço, não sei se terei sucesso. E reconheço também a nossa culpa, nós, jornalistas. Nós é que começamos com isso, publicando primeiro notas avulsas, depois páginas inteiras de notas e agora reportagens completas em “infográficos”. Faz anos que nos esforçamos em formar não leitores. Conseguimos.
A internet torna a questão mais aguda. A internet é um polvo, ela abraça a tudo e a todos, e faz com que tudo e todos pareçam iguais. Não que seja culpa da internet. A internet não passa de um instrumento, mas, como é um instrumento eficiente, torna fácil e rápida a tendência natural do ser humano ao apatetamento.
O curioso desse fenômeno é notar que, quanto mais patetas as pessoas, mais agressivas elas se tornam ao serem confrontadas com o diferente ou o contraditório. Qualquer opinião que desborda do senso comum vale insulto. Eu, particularmente, não me abalo com insulto. O que me incomoda é quando eles simulam risada. Eles escrevem: “ushushaushausha”. Ou: “kkkkkkkkkk”. Degradante.
Na verdade, a agressividade dos patetas não deveria surpreender. A História mostra que é assim que funciona. As reações coletivas mais violentas não ocorreram em períodos de luzes, mas nos tempos em que o povo vivia submerso na ignorância. Pegue dois exemplos notórios.
Antes da deflagração das duas maiores revoluções de todos os tempos, as populações da França e da Rússia eram, em sua ampla maioria, constituídas por analfabetos famintos, miseráveis que viviam oprimidos pela Justiça, pela polícia e pelo governo.
Dois trios de intelectuais (Marat, Danton e Robespierre; Lênin, Trotsky e Stalin), compreenderam a angústia das massas, tomaram a liderança à força e mudaram tudo até o osso, inclusive com pouco inteligentes abolições da religião e do calendário. Passado o período de conflito, a plebe voltou a ser submetida alegremente por ditaduras, seja a napoleônica, seja a stalinista.
Ou seja: as mais profundas revoluções da História pareciam indicar que o povo oprimido queria liberdade. Era o que gritavam nas ruas: “Liberdade! Liberdade!” .Mas não. Entre liberdade e igualdade, o povo prefere igualdade. Mais até: ele suporta a desigualdade sem queixas, desde que as suas condições de inferioridade sejam minimamente dignas.
Agora, no século 21, as massas ululam que a internet é o novo e poderoso instrumento da liberdade. Apregoam que a chamada Primavera Árabe foi urdida pelo tuíter. Bobagem. O tuíter é uma ferramenta, tanto quanto eram os panfletos que Marat escrevia em sua banheira na Paris do fim do século 18. Serviu só como um veículo que canalizou a fúria da massa ignara com sua condição de vida.
Como os russos e franceses do passado, os árabes do presente não se revoltaram por liberdade, mas por causa das coisas que realmente importam: casa e comida. Tudo é casa, comida e sexo, dizia Freud. E é. É isso que almejam os patetas do mundo inteiro. E os que não são patetas também.
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