domingo, 25 de dezembro de 2011



24/12/2011 e 25/12/2011 | N° 16927
VERISSIMO


Natal branco

O condomínio se chama Happy Houses. No portão de entrada está escrito Entrance em vez de Entrada e todas as ruas têm nomes em inglês, como Flower Lane e Sunshine Street. O condomínio tem um playground para as crianças, com serviço permanente de baby sitters e uma área de lazer para adultos chamada Relaxation and Recreation.

Cada casa, em estilo americano, tem seu swimming pool, e o policiamento de todo o projeto é fornecido pela empresa de segurança Confidence. No Natal, as casas ficam cobertas de luzinhas decorativas e os moradores costumam fazer uma grande festa comunitária na praça central, ou Central Park, do condomínio, com Papai Noel, troca de presentes e tudo, ao som de Jingle Bells.

E sempre há um que começa a cantar White Christmas, e não demora estão todos cantando, em inglês, que sonham com um natal branco, com um natal com neve. E, numa noite de Natal, aconteceu o seguinte: quando estavam todos cantando White Christmas começou a nevar sobre o condomínio.

A princípio, ninguém acreditou. O que era aquilo? Flocos brancos caindo do céu e se acumulando no chão do “Central Park”, nos galhos da árvore de Natal, na cabeça das pessoas? Parecia neve.

– É neve! – exclamou alguém.

– Como, neve? Aqui? No verão? Com este ca...

Não pode completar a frase porque foi atingido no nariz por uma bola de (agora não havia mais dúvidas) neve.

A algazarra foi grande. O sonho se realizava. As preces tinham sido ouvidas. Pois só um milagre explicava aquela neve. Só um milagre explicava estarem tendo um Natal branco, como deveriam ser todos os natais.

Todos correram para dentro de suas casas, para procurar agasalhos e voltar para a praça. A neve não parava de cair, cada vez com mais intensidade. Já havia neve acumulada nos jardins e nos telhados. Surgiram bonecos de neve, iguais aos de filme americano.

As crianças se divertiam rolando na neve. E continuava a nevar, e a nevar. A locomoção sobre os montes de neve se tornava difícil. Muitos decidiram voltar para suas casas antes que a neve os impedisse de andar nas ruas.

As casas não tinham calefação, como seria se ficassem soterrados pela neve durante dias? As lareiras das casas eram só para dar um toque americano, como nos filmes, à decoração. Não adiantariam nada. O socorro demoraria a chegar, por causa da neve. E continuava a nevar, e a nevar. A neve já estava pelas janelas das casas. Os telhados poderiam não aguentar o peso de tanta neve acumulada. Ninguém dormiu tranquilo sob as cobertas, naquela noite.

No dia seguinte, outro milagre. A neve desaparecera por completo. Só restara um montinho na cabeça de um jacaré de borracha boiando numa das piscinas, e este também desapareceu com o calor. Os proprietários se reuniram no “Meeting Room” da “Relaxation and Recreation” para discutir o fenômeno.

Estranhamente, não saíra nenhuma notícia de nevadas em outros lugares da região. A neve só caíra no “Happy Houses” Por que seria? Decidiram não falar do ocorrido para ninguém fora do condomínio.

Se acontecesse outra vez, contariam. Ser o único lugar do Brasil em que nevava no Natal só aumentaria o valor das propriedades. Mas, por enquanto, não diriam nada. A nevada poderia muito bem ter sido um aviso.

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