quarta-feira, 28 de dezembro de 2011



28 de dezembro de 2011 | N° 16930
PAULO SANT’ANA


Caminhos da felicidade

Vamos direto ao assunto: retorno ao tema que mais me fascina, a felicidade.

Em primeiro lugar, acho que felicidade é tudo de bom que não for ilusão.

Digo isto porque o sonho e a esperança constituem a ilusão. Então, quando se sonha não se está exatamente usufruindo de felicidade. O mesmo quando se está dominado pela esperança, isto é, há nesses casos a perspectiva de ser feliz, mas é só perspectiva ainda.

A felicidade é a meta mais objetiva da esperança. E a ilusão é apenas o simulacro da felicidade.

Enquanto a felicidade é aquele êxtase existencial supremo, aquela delícia em viver, uma realização em que o ser conquista todos os deleites da vida e nada tem a reclamar do seu destino.

Eu diria até que a ilusão e a esperança, quando se consumam, levam à felicidade.

O iludido acredita firmemente que será feliz. O esperançado carrega muito de fé, pouco de fé, mas se apoia na crença, robusta ou frágil, de que será feliz.

Tanto a ilusão não consiste na felicidade, que o célebre fox de Mário Lago tem como verso principal a sentença: “Nada além, nada além de uma ilusão/ chega bem e é demais para o meu coração/ acreditando em tudo o que o amor, mentindo, sempre diz/ eu vou vivendo assim feliz/ na ilusão de ser feliz”.

Notem que o poeta valoriza tanto a ilusão, que a põe acima do amor, mais tarde, nessa mesma música ele diz que “pior é o amor/ nada melhor do que a ilusão do amor”.

De alguma forma, Mário Lago, obcecado pela ilusão, atreve-se a afirmar que ela é muito melhor que o amor, isto é, o autor chega ao ponto de confundir a ilusão com a felicidade.

Mas não é bem assim. Eu vejo muitas pessoas dizerem: “Eu vivia na ilusão de que poderia ser feliz”.

Assim como vejo pessoas dizerem: “Não passou para mim de uma tola esperança”.

São provas irrefutáveis de que a ilusão e a esperança são caminhos, falsos ou verdadeiros, que conduzem ou pretendem conduzir à felicidade.

É bem verdade, em última análise, que a esperança e a ilusão são estados característicos da condição humana. O homem ingressa na loucura justamente quando deixa de possuir qualquer esperança ou ilusão, nada mais há o que fazer, está consumada a transição da esperança e da ilusão para a loucura.

Você, leitor ou leitora, fique certo de uma coisa: se nutre ou nutriu alguma esperança ou ilusão, nada há de errado nisso: tanto a esperança quanto a ilusão são combustíveis indispensáveis para o motor humano funcionar.

Mas esse motor só se sublima e atinge o máximo de seu rendimento quando o homem atinge a felicidade.

É o ápice, esta é a pedra 90!

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