sábado, 31 de dezembro de 2011



31/12/2011 e 01/01/2012 | N° 16933
DAVID COIMBRA


Como fazer escolhas em 2012

Acriatividade, necessariamente, está associada a certa dose de irresponsabilidade. É quase impossível ser criativo e cordato, porque o criativo tem de romper padrões, ou ele não é criativo.

A criatividade é agressiva, é um subproduto da agressividade. O homem criativo é um inadaptado à sociedade. Um rebelde em potencial. Ele sublima sua inadaptação criando.

Obviamente, nem todos os inadaptados, rebeldes e agressivos são criativos. Às vezes, muitas vezes, eles são apenas inadaptados, rebeldes e agressivos, sem nenhum talento que os possa redimir. Mas a premissa contrária é verdadeira: o criativo em geral, ao criar, está pondo para fora sua inadaptação, sua rebeldia e sua agressividade.

Por isso, um atacante quase sempre será agressivo, será um irresponsável, será um rebelde. Se conseguir converter sua agressividade, rebeldia e irresponsabilidade em gols sem comprometer o clube, ótimo. Mas dificilmente se conseguirá um atacante comportado e criativo ao mesmo tempo. É aquela história do Chico Buarque: quando ele ia se despedir da mãe, ela recomendava:

– Meu filho: divirta-se e comporte-se.

O Chico respondia:

– Mãe, uma coisa ou outra: ou eu me divirto, ou eu me comporto.

Portanto, não contrate atacante certinho demais. Ele até pode parecer um comportado como o Chico parece. Mas o Chico não é. A mãe dele sabia disso.

O sério

O zagueiro é o contrário. O zagueiro não pode ser irresponsável e rebelde. O zagueiro tem de ser um homem sério. Para ele, pouco importa ser criativo, ousar, inovar, fazer o diferente. Não. O zagueiro tem de ser um tipo vigilante, controlador e sisudo. O zagueiro é o administrador de empresas que prega a economia e o corte de despesas. O zagueiro não sonha, ele tem os pés no chão. O zagueiro é tão correto que é quase uma mulher.

Assim, não contrate zagueiro com cabelo moicano ou que participe de dancinhas de comemoração de gol. De preferência, contrate um zagueiro que não ria. Melhor um que nem sorrir, sorria.

O cerebral

O meio-campista tem de ser, em todos os sentidos, o cérebro do time. Não pode ser irresponsável como o atacante, nem por demais sisudo como o zagueiro. Está, de forma muito apropriada, entre um e outro – não por acaso, no meio do campo. Pode ser um tanto rebelde, para que converta a rebeldia em criatividade, e algo sério, para que possa se compenetrar e compreender o jogo. Mas nunca pode ser uma coisa ou outra em excesso.

Então, contrate um meio-campo que leve o jogo a sério, mas que não se leve a sério.

O louco

O goleiro, é evidente, tem de ser meio louco. Manga, Danrlei, Leão, todos meio loucos. Taffarel parecia certinho, até o dia em que explodiu, saiu correndo atrás de um atacante, rojou-o ao chão e tapou-o de pontapés. Lembram do Gainete brigando com o Alcindo? Do Higuita? Do Chillavert? Do Jorge Campos? Loucos.

Goleiro não pode ser depressivo. Não pode ser um normal, e depressão é mal de gente normal demais, vinculada demais ao mundo. Porque a profissão do goleiro não é normal. Num jogo que tem por objetivo fazer o gol, ele quer impedir o gol. Coisa de louco. Só louco aceita isso.

Logo, nada de contratar goleiro normalzinho. Pegue um maluco. Ele pode incomodar, mas vai pegar tudo.

É isso. Não erre. Faça uma avaliação psicológica antes de contratar. E tenha um 2012 repleto de vitórias.

A coluna do David é publicada às terças e sábados

Nenhum comentário: