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segunda-feira, 8 de agosto de 2011
08 de agosto de 2011 | N° 16786
KLEDIR RAMIL
Marmelada
Nunca fui um bom atleta. Culpa daquela minha professora de piano que, no primeiro dia de aula, me proibiu de jogar vôlei, basquete e, por via das dúvidas, futebol. “Esportes primitivos”, segundo a avaliação dela. Eu só tinha permissão para jogar xadrez. Os conceitos radicais dessa professora terminaram por me afastar do ambiente esportivo e fez o Brasil perder um atleta de talento. Hipoteticamente falando.
Eu hoje poderia estar numa Olimpíada. Não competindo, pois não tenho mais idade pra isso, mas talvez como comentarista de TV ou, pelo menos, ajudando a carregar a tocha. A não ser que o COI resolva promover a Olimpíada da terceira idade. Tenho condições etárias de jogar na equipe mirim de futebol de idosos, a seleção sub-60.
Na época da adolescência, como reação à impossibilidade de brilhar nas quadras e nas pistas, e decepcionado com as rigorosas aulas de piano, me refugiei atrás do violão. O que desenvolveu em mim uma musculatura especial. Nas mãos.
Tenho dedos finos, ágeis, velozes, cheios de destreza. Como não encontrei nenhum esporte onde pudesse usar tanta habilidade – fora bolinha de gude – coloquei tudo isso a serviço de uma boa causa: a música popular. Mais recentemente, acrescentei ao uso do teclado do computador algumas técnicas aprendidas naquelas aulas de piano e enveredei pela literatura.
Ao longo da minha vida, conquistei várias medalhas e troféus, sempre em concursos de música ou literatura. Festival de música é uma competição esquisita, onde se escolhe a melhor canção. Como isso é uma questão de gosto, e gosto é relativo, sempre sai um resultado questionável.
Por isso, muitas vezes se ouve a gritaria de “marmelada”. Nas competições esportivas é simples saber quem leva o ouro, a prata e o bronze. É fácil medir quem chega na frente. Metros, centímetros, minutos, segundos ou quantidade de gols. Em arte, a coisa é subjetiva. Ou seja, pode ser marmelada.
Ainda tenho esperança de um dia receber um troféu indiscutível, desses que se consegue nas competições esportivas. Por isso, comecei a fazer exercícios físicos, no aguardo da confirmação da Olimpíada da terceira idade.
Mesmo assim, pra não pagar mico, vou procurar me inscrever em uma modalidade que não chame muito a atenção do público e da mídia, como badminton ou softbol.
Ou, quem sabe, bolinha de gude.
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