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quinta-feira, 4 de agosto de 2011
04 de agosto de 2011 | N° 16782
LETICIA WIERZCHOWSKI
Música para super-heróis
Dirijo por Porto Alegre numa segunda-feira amuada. No banco de trás, meu filho de três anos (vestido de Batman) dança de maneira engraçada. Dança como pode dançar, balançando a cabeça e os braços, pois está preso à cadeirinha. Dança uma música de Serge Gainsbourg. Dança com o rosto todo, dança com as mãos, e viaja de maneira tão bonita que preciso fazer força para afastar meus olhos do retrovisor, concentrando-me no trânsito chato da cidade.
Fazia tempo que eu não ouvia Gainsbourg, e comprei esse CD às pressas, depois de assistir ao lindo filme Gainsbourg: o Homem que Amava as Mulheres. Confesso aqui que fui ao cinema mal-humorada, lutando contra uma gripe. Mas nada como uma boa sessão de cinema para levantar o astral da gente – na saída, agradeci ao maridão o convite. Serge Gainsbourg, sua vida, suas canções e seus amores surtiram maravilhoso efeito sobre o meu mal-estar em geral, e muito mais sobre a minha alma.
Disseram por aí do filme dirigido por Joann Sfar que era atravancado, sem muita continuidade, e que só deslanchava quando Serge Gainsbourg andava, na tela, às voltas com as suas mulheres – e ele teve muitas, paixões fulminantes e famosas como as belíssimas Brigitte Bardot e Jane Birkin, com quem, aliás, foi casado por 13 anos.
Eu digo do filme que é delicioso, debochado e divertido, que tem um andamento próprio e um encadeamento encantador, que as atuações são incríveis (Eric Elmosnino simplesmente encarnou Serge Gainsbourg), e é tão maluco quanto o seu personagem principal.
Porque Gainsbourg era moderno, maluco e irreverente antes que isto se tornasse, digamos, uma atitude mercadológica corrente. No delicado começo do filme, Gainsbourg aparece menino, um judeuzinho muito esperto e de orelhas enormes, vivendo a ocupação nazista na França.
Mas o pequeno Lucien (Gainsbourg se chamava Lucien e trocou seu nome apenas quando começou a fazer sucesso com a sua música) sobrevive aos nazis e segue em frente, firme e forte. Feio e charmoso (ele dizia que a feiura era superior à beleza porque durava mais), Gainsbourg navegou por muitos mares até ancorar na linda inglesinha Jane Birkin, seu grande amor.
Mas dirijam-se ao cinema mais próximo, por favor, e passem um par de belas horas no escuro. O que não está no filme é o imostrável – ninguém pode explicar completamente outra pessoa.
Agora estamos em casa, meu Batman e eu, ainda ouvindo (e adorando) Serge Gainsbourg. Meu caçula está dando pulos pela sala ao som de Le Canari Sur le Balcon. Ah... Salve, Gainsbourg!
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