terça-feira, 2 de agosto de 2011



02 de agosto de 2011 | N° 16780
PAULO SANT’ANA


Minha homenagem

Eu hoje queria prestar uma última e silenciosa homenagem a todas as pessoas que estão irremediavelmente amarradas a um mau destino.

Minha homenagem aos que tentaram por todas as formas ser felizes e bateram contra as pedras rudes do seu destino imutável.

Aos que se debateram contra a insensibilidade dos outros, contra a maldade dos outros, contra a indiferença dos outros. Minha homenagem.

Aos que trombaram com a irredutibilidade. Aos que não conseguiram mudar a trajetória do seu cruel destino.

Aos que cedo perceberam que não ia dar, e acabou não dando.

Aos que imploraram bom senso, aos que chegaram a pedir piedade ao carrasco de suas circunstâncias e obtiveram como resposta somente a recusa. A fria e má recusa dos implacáveis.

Minha homenagem aos que tudo fizeram para remover os obstáculos que se antepunham para sua realização e encontraram só a fria e marmórea incompreensão dos outros.

Minha sentida homenagem. Minha póstera homenagem.

Tenho-lhes compaixão e respeito por sua árdua luta. Sei das inglórias batalhas que travaram para dar nova feição ao seu destino. Sei-o, sou testemunha remota e virtual de seu combate para tentar moldar o seu triste, deplorável e por fim sinistro destino.

Gastaram todas as suas forças e o que lhes restava de talento talvez para dar novo rumo às suas vidas.

E guardam na secura da sua pele e na tristeza de seus olhos a marca irremovível do fracasso.

É o destino. É o seu destino.

Foram bravos, não há mais o que se lhes possa exigir. É possível que tenham dado passos falsos, é possível que ali e aqui tenham incorrido em erros de escolha. Mas se corrigiram e se agasalham hoje na consciência de que afinal foram justos, foram honestos, foram retos e tudo fizeram para tentar convencer os que os contrariavam de que eram merecedores de justiça compassiva.

Tenho por eles profunda admiração. Não passam hoje de derrotados espectros de um ideal perdido, que foi perseguido, que foi buscado, que foi sonhado mas esboroou-se no terreno infértil das inúteis quimeras.

Eis que, face em terra, dirijo-lhes estas derradeiras palavras. Que suas vidas esvaziadas e seus corações inermes se tornem apenas um marco de quanto é ingrato o destino dos injustiçados, dos que não mereceram esse fim hediondo, o fim da esperança, o fim da vida em vida.

E, por fim, dou-lhes um consolo ou uma consideração: estas palavras talvez, com quase certeza, eu esteja dirigindo a mim próprio, alvo infeliz e trôpego desse trágico insucesso.

E é certo que nesta histórica coluna eu tenha vazado a minha dor suprema.

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