terça-feira, 2 de agosto de 2011



02 de agosto de 2011 | N° 16780
LUÍS AUGUSTO FISCHER


Ensinar literatura no mundo globalizado

É certo que nosso tempo, este que sucede ao fim da Guerra Fria, o tempo da completa hegemonia do capital financeiro sem compromisso com plantas industriais ou com estruturas sociais localizadas concretamente, o tempo da internet e tudo que ela aciona em matéria de internacionalismo cotidiano, vive um novo momento no que se refere à noção de nacional – nacionalidade, identidade nacional e tudo o mais.

Não há quem possa pensar na dimensão nacional como fazia até 20 anos atrás, quando a relação de cada indivíduo com a informação era mediada por instituições muito menos dinâmicas do que a internet (a escola, o rádio, a televisão, a indústria de bens culturais), todas elas profundamente radicadas em cada país ou região.

A entrada em cena da internet, para o campo literário, é um fato com consequências certamente fortes, que ainda mal conseguimos avaliar, mas que podem ser registradas ao menos num patamar: mudou, para sempre, a relação da produção literária e intelectual com as antigas demandas do âmbito nacional.

Não significa que esse âmbito tenha desaparecido, nem no plano das instituições formais (o ensino, por exemplo), nem no plano da literatura; mas ele mudou, para sempre.

Neste caso o Brasil tem a peculiaridade de ser um país gigantesco, com certa vocação imperial, e é o único país de língua portuguesa na América, sendo ainda o mais populoso país dessa importantíssima língua, a quinta ou sexta em número de falantes no planeta, o que não é pouco.

E mais: a escola brasileira, nas últimas duas décadas, está de fato chegando a todo mundo. Precária que seja, mas está chegando. E os sucessivos governos federal e municipais (o estadual gaúcho não, lamentavelmente) têm desenvolvido programas de incentivo à leitura e comprado muito livro para alunos e escolas, de forma que podemos dizer que estamos aumentando bastante o número de leitores no país, finalmente.

Neste mundo relativamente novo, uma das coisas que mais me tem feito pensar é como conceber programas e práticas de ensino de literatura. Ao menos uma pergunta se impõe: a escola, no Brasil, deve manter sua tradição de estudar apenas literatura brasileira, especialmente no Ensino Médio?

Eu também acho que não devemos manter essa perspectiva, inventada sob a lógica romântica e mantida pela lógica modernista. Mas se não, qual a regra que podemos pensar para a inclusão de outros autores e outras tradições literárias? Deixamos Alencar para trás, em definitivo, em favor de, sei lá, Balzac, James Fenimore Cooper e algum romancista chinês? Bá.

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