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quinta-feira, 11 de agosto de 2011
11 de agosto de 2011 | N° 16789
CLAUDIA TAJES
Parece mentira
Um dos mais caros preceitos da literatura diz que toda trama precisa ser verossímil. O editor Ivan Pinheiro Machado, depois de avaliar os originais do meu primeiro livro, fez o seguinte comentário: está tudo bem, vamos publicar, mas alto lá. O último capítulo é inverossímil e o leitor não é bobo, precisa acreditar na história.
O detalhe é que o capítulo em questão era o único mais ou menos autobiográfico, mas esse já é outro assunto. Reescrevi, o livro saiu e ficou a lição: de inacreditável, só a vida.
E é um inacreditável que sobra na cabeça ao se saber de alguns fatos que foram notícia nesses dias. A merendeira que misturou raticida na comida das crianças, diz ela que sem motivo, e qual o motivo para se envenenar crianças? Em Viamão, o policial que manteve em cárcere privado por 20 anos, sob abusos e torturas, uma menina que a própria mãe entregou a ele aos seis anos de idade.
A moça dada pelo irmão aos traficantes para pagar uma dívida de R$ 600. A escola incendiada em Eldorado do Sul, os indiozinhos que vão para a aula de camiseta e pés descalços a zero grau e tantas barbaridades por aí. Na categoria presepada, o deputado que, seis meses depois, tomou as dores da Gangue da Matriz e quis processar o cantor Tonho Crocco em nome da honra.
A gente abre o jornal e fica com a sensação de levar um soco logo de manhã cedo. Não deve ser verdade, o repórter entendeu mal. Essa foto é uma montagem, esse texto é o roteiro do Jogos Mortais ou de outro desses filmes que não servem para nada. Em horas assim, como é reconfortante o princípio do livro, onde tudo precisa fazer sentido.
E, se não fizer, o editor não publica.
Ainda a vida. Dizem que só existem duas coisas certas sobre ela: a morte e que o Celso Roth voltará para treinar o seu time. Sendo novamente a vez do Grêmio, vão aqui os mais sinceros desejos de sucesso. E que, com ele, a gente não apenas pare de afundar, como possa pensar em coisas maiores.
Também para isso a vida é inverossímil.
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