quarta-feira, 24 de agosto de 2011



24 de agosto de 2011 | N° 16803
PAULO SANT’ANA


Salivando o JA

Peço desculpas aos telespectadores do Jornal do Almoço de anteontem por ter debatido com o Lasier Martins durante seis minutos, estando eu a mascar chicletes.

Pareceu uma descortesia, mas acontece que, como vou detalhar abaixo, tendo sido alvo de radioterapia, perdi a saliva, o paladar e o apetite.

Acontece que por cândida mas explicável ignorância, eu desconhecia as propriedades da saliva no corpo humano.

E, agora que fui privado dela pela radioterapia, vim a sentir uma secura total na boca. E entre outras utilidades da saliva, é incrível, está a de lubrificar, digamos assim, a fonação. Ou seja, sem a saliva, fica prejudicada totalmente a minha dicção, que se arrasta e tropeça entre as línguas e os dentes e me torna ininterpretável.

Por isso é que usei o estratagema de mascar chicletes durante o meu comentário no Jornal do Almoço. Como não avisei aos telespectadores, pode ter soado como uma descortesia minha, um desrespeito. Peço, assim, desculpas.

E amanhã, se eu tiver de usar o mesmo recurso, pelo menos os telespectadores já estarão avisados e com certeza me relevarão.

Tenho notado que o noticiário geral brasileiro, todos os dias, acompanha o tratamento contra o câncer do ator Reynaldo Gianecchini.

Quem sou para que noticiem nacionalmente o meu tratamento de câncer? Como não tenho a notoriedade nacional dos atores da Globo, então sou eu mesmo que por vezes noticio o meu tratamento.

Estou na fase em que enfrento os paraefeitos da radioterapia. Tendo perdido o paladar, faz 50 dias que me alimento só de sopas, caldos, outros líquidos.

Conheci já todos os itens dessas sopas que vêm em pacotes, já não suporto mais a repetição.

Uma refeição que me tem auxiliado bastante no meu impasse é o mocotó, de que me aproveito por causa do frio ineditamente insistente de que estamos sendo alvos.

Mas mocotó todos os dias também cansa a paciência.

E lá vou levando meu destino, sem saliva, sem apetite e sem paladar.

Esqueci-me de destacar que estou impossibilitado de ingerir qualquer alimento sólido. A saudade que sinto do churrasco, por exemplo, é massacrante.

Churrasco, na situação em que me encontro, só se desossasse uma costela assada e a colocasse no liquidificador, o que seria quase tão ridículo quanto prosaico.

Churrasco no liquidificador! Isso não passaria com certeza pelo aparelho intelectivo dos antropólogos nativistas, entre eles o Nico Fagundes.

E me passa pela cabeça a seguinte hipótese: se eu ingerisse um churrasco liquidificado, teria de usar sal grosso?

E no liquidificador se nota a diferença entre um churrasco de costela e o de picanha? E pode-se usar, como gosto muito, a gordura da carne no churrasco liquidificado?

São questões que coloco ao exame dos profissionais competentes, entre eles os nutricionistas.

O certo é que, como tudo na vida, a gente só dá valor quando perde. Assim é que estou perplexo com a perda do meu paladar e da minha saliva. Nunca pensei que a existência deles fosse tão transcendental para a sobrevivência humana.

E o interessante é que não encontrei em Porto Alegre nenhum médico especializado em transtornos do paladar.

Transtornos da visão, temos os oftalmologistas, da audição, os otorrinos, mas haverá médicos especializados em transtornos do paladar, do tato e do olfato?

São curiosidades que um paciente de câncer oferece com gentileza aos seus leitores.

Um comentário:

Anônimo disse...

Li no link abaixo, sobre acreditar em Deus II, te desejo muita paciência para essa provação que estas passando, o importante é não perder a fé em nosso Pai Celestial, lendo o seu texto, aproveito para te enviar uma mensagem de Chico Xavier, parecida com a sua mensagem.

http://sergyovitro.blogspot.com/2011/08/paulo-santana-acredito-em-deus-ii.html

Os presentes de Deus a Chico...

"...Deus tem me concedido "presentes"que, se a primeira vista parecerem ter sido pesados, na verdade não o foram... Aos 10 anos de idade tive um enorme tumor no calcanhar que me impediu de caminhar por muito tempo; aos 20, sofri a chamada doença de São Guido, que muitas pessoas, na época, atribuíram ao exercício da mediunidade; aos 30 anos, fui considerado tuberculoso pelo médico de Pedro Leopoldo, aos 40 anos, em conseqüência de uma grave retenção urinária, surgiram diversos tumores que se espalharam por todo corpo; aos 50, veio a angina pectoris; aos 60, o enfarte; aos 70, o problema da locomoção complicando-se mais e, agora, aos 80 anos, sou "presenteado" com uma pneumonia e uma "superangina"... Mesmo assim, eu não tenho o direito de dizer que os "presentes" que Deus tem me concedido são pesados... Eles foram e são leves, em favor de minha necessidade de reajuste..."
Sabemos que em julho de 1995, o querido medianeiro já recebeu outros "presentes" de Deus, segundo noticiário da imprensa. No entanto, sabemos, com convicção, que a resignação de Chico é a mesma perante a Vontade Divina, nos oferecendo através do exemplo, que sofrer sem revolta é uma bênção de Deus.
Em uma de suas viagens a São Paulo para tratamento periódico de sua saúde, Chico diz que quando o carro do amigo que o conduzia parou em um semáforo, um jovem conheceu-o através da janela do veículo e gritou: "Oh! Chico! Como está de saúde?
"- Eu estou bem , obrigado, pois sou espírito..." Caso aquele jovem não houvesse bem interpretado as inteligentes e lógicas expressões do medianeiro, por certo pensou que o Chico já havia desencarnado e ali estava seu espírito...

DO LIVRO: Chico Xavier - O Homem, o Médium, o Missionário
AUTOR: Antônio Matte Noroefé

rita.luiz@hotmail.com