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sexta-feira, 26 de agosto de 2011
26 de agosto de 2011 | N° 16805
PAULO SANT’ANA
Álcool, a droga-mãe
Um amigo meu, com quem converso durante muito tempo todos os dias, me fez um apelo ontem: “Sant’Ana, como tu sabes, eu não sou fumante. Mas aspiro todos os dias a fumaça do teu cigarro. O que eu queria te pedir é que deixes de fumar a marca Charm e passes a fumar a marca Free, a fumaça do Free será mais agradável para mim. Pedir-te que deixes de fumar, sei que é impossível. Mas troca, por mim, de marca de fumaça”.
É a primeira vez que vi em minha vida um não fumante querer mudar de marca de cigarro.
Por falar em cigarro, assisti por inteiro à entrevista no Roda Viva com o psiquiatra Sérgio de Paula Ramos, especializado no tratamento com drogados de todas as drogas.
Chamou-me a atenção um dado que ele forneceu: o cigarro teve seu consumo diminuído em 50% nos últimos anos.
Atenção, que estamos diante de um fato significativo: o cigarro, que é uma droga de livre consumo, caiu pela metade em uso.
Interessante, acho que as drogas proibidas podem não ter índices, mas na minha presunção até está aumentando o seu consumo.
Não é um interessante paradoxo e um estímulo à ideia de alguns de que se deveria liberar todas as drogas?
O médico Paula Ramos se queixou diversas vezes na entrevista de que a televisão divulga em massa a propaganda da cerveja e que esse fato leva o uso do álcool a intenso sucesso.
O psicanalista considera, por assim dizer, o álcool a droga-mãe de todas elas. Ele diz que o álcool gravita em torno das outras drogas e que grande parte dos vícios nas outras drogas começa pelo álcool.
Também referiu que a revista Veja divulgou um dado interessante: 73% dos congressistas brasileiros receberam ajuda financeira da indústria de bebidas alcoólicas para se elegerem.
Paula Ramos reclamou diversas vezes e de modo veemente de que os médicos e programas que combatem as drogas não têm abrigo para sua causa nos meios de comunicação, pelo que esta coluna se oferece a ele para que divulgue aqui nesta minha penúltima página, espaço que ele sabe ser um canhão, tudo o que ele quiser para enfrentar as drogas, desde que tenha formato inteligente e talentoso.
Eu estou, assim, oferecendo esta minha coluna para o doutor Paula Ramos porque nós, jornalistas ou proprietários de jornais, mergulhados em nossos misteres, podemos nos desaperceber de que não ajudamos determinados setores nobres da sociedade, os que se dedicam às melhores causas.
Então eu posso, como colunista, não estar desempenhando minha missão social a contento, desde que não contemplo as boas lutas com o usufruto do meu espaço.
Às vezes, me pergunto se eu não tinha que ser mais insistente, por exemplo, na causa da doação de órgãos.
Ou na causa dos institutos e casas do tipo asilo, que sofrem grandes dificuldades para manter-se e certamente necessitam de ajuda da imprensa para levar à frente seu ideal.
Vale a reflexão e principalmente o detalhe de que estou confessando ser sensível às melhores causas, tentando facilitar o acesso a mim.
A imprensa tem de ser transcendentalmente útil ao meio social.
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