terça-feira, 16 de agosto de 2011



16 de agosto de 2011 | N° 16794
PAULO SANT’ANA


Acredito em Deus (II)

Voltando às causas de por que acredito em Deus.

Acredito em Deus porque me tratam com cruel impiedade e eu nunca tive coragem para ser impiedoso com ninguém.

O último que me foi violentamente impiedoso veio se chegando de mansinho, o que ele queria em verdade era romper comigo e me deixar estraçalhado.

Foi falsamente gentil, conversou normalmente comigo e armou-me na conversa uma arapuca. Aí eu me descuidei e ele deu o bote: rompeu comigo, desligou-me o telefone na cara.

Deixou no seu rastro a minha tristeza e desilusão.

Mas eu acredito em Deus porque, apesar do dano imenso e irreparável que me causou, não lhe tenho ódio nem raiva, estava escrito que tinha de acontecer, meu agressor foi somente objeto do meu destino, que consiste unicamente em estar sempre em litígio com as pessoas que amo.

Acredito em Deus porque ele me permitiu o câncer mas logo me provocou a esperança.

Acredito em Deus porque todos os dias ele me renova a sensação cálida de que muita gente gosta de mim, me admira e torce para que eu volte a ser feliz.

Acredito em Deus porque, em meio a tanta maldade, existe muita gente boa e generosa, que só veio ao mundo para entender os outros e amá-los.

Acredito em Deus porque em meio a tanta inveja existem alguns pontos de extrema e sincera dedicação, que me tocam com sua solidariedade.

Acredito em Deus porque, apesar de tanta fome no mundo, são milhões os exemplos de escolas, creches, hospitais, asilos, onde o amor se espalha por seus frequentadores e fá-los animarem-se até o regozijo.

Acredito em Deus porque, se a vida me tira hoje o entusiasmo, amanhã permitirá que eu seja dominado pelo arrebatamento.

Acredito em Deus porque, no final das contas, vivi. E me emocionei, me deixei tocar pela dor dos outros e tanta gente percebeu a minha dor e teve compaixão por ela.

Acredito em Deus porque ainda distingo as cores, ainda vejo as paisagens e ainda escuto os discursos.

Acredito em Deus porque ainda discirno o aroma das flores e das frutas. E acredito em Deus porque ainda pelo tato percebo o que está me esperando em mais esta esquina da vida, se espumas ou espinhos.

Acredito em Deus porque um filho de amigo meu, com 16 anos de idade, encerrou-me em seu quarto anteontem e tocou duas músicas preciosas para mim, acompanhando-se magistralmente ao piano do lado de sua alcova.

Acredito em Deus. E noto esparsos sinais de que Deus acredita em mim.

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