sábado, 6 de agosto de 2011



07 de agosto de 2011 | N° 16785
PAULO SANT’ANA


Estranho fenômeno

Fui percebendo, nos últimos anos, um estranho fenômeno psicossocial acontecido entre nós: psicanalistas, psiquiatras e psicólogos se separavam de suas esposas e se casavam com suas clientes.

Era um aqui e outro acolá, foram se sucedendo os terapeutas que se apaixonavam por suas clientes e, separando-se de suas esposas, seguiam a vida em frente em companhia de mulheres que antes recebiam como pacientes.

“Qual será o traço comum desse comportamento?”, perguntava-me até ontem, quando encontrei definitivamente a resposta.

O meu leitor ou leitora certamente me desculpará por ter tido curiosidade acerca desse estranho fato.

É que esses casos foram se sucedendo e todos os que os vivenciaram não se aperceberam de que estavam inseridos num fenômeno coletivo que, afinal, tinha a mesma causa.

Como não fui protagonista de nenhum desses casos, já que não sou terapeuta, à distância tive melhores condições para diagnosticar a impressionante série de separações e em seguida novos casamentos havidos entre os terapeutas e suas clientes.

É o seguinte: os psicanalistas, psiquiatras e psicólogos que cometeram esse ajuste em suas vidas, casados, conviviam durante 24 horas por dia com suas esposas.

Vinte e quatro horas por dia dá 168 horas por semana, 720 horas por mês, 8.760 horas por ano na lida conjugal. Até aí tudo bem.

Só que com as clientes eles conviviam apenas uma hora por semana, quatro ou cinco horas por mês, 52 horas por ano, o tempo apenas de uma hora que duravam as consultas.

Ou seja, fizeram a comparação entre o tempo exaustivo em que conviviam com suas esposas e o tempo rápido, fugaz e agradável em que conviviam com suas clientes.

E, como as clientes eram também uma novidade, tão saudável que até lhes pagavam pelas consultas, e as esposas, além de não pagarem nada, lhes custavam os olhos da cara, não tiveram dúvida em se apaixonar pelas clientes, separarem-se das esposas e iniciar uma vida nova e prometedora.

Pretendo, assim, que esclareci o intrigante fenômeno. Não raro, assim como alguns alunos com as professoras, as clientes dos terapeutas se apaixonam em meio ao trabalho, ao exercício da terapia, que como se sabe consiste numa interlocução sempre amável, muito perscrutadora e por vezes insinuantemente íntima e frequentemente invasiva.

Daí para o amor, é um passo quase inevitável.

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