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segunda-feira, 15 de agosto de 2011
15 de agosto de 2011 | N° 16793
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Soneto
De todas as formas literárias, o soneto é a mais duradoura. É possível que seu representante mais antigo tenha sido Petrarca. Embora a rigidez da forma, o soneto permite algumas variações no número de sílabas ou, mesmo, no arranjo dos versos. Já a temática do soneto é, em geral, amorosa ou, pelo menos, lírica.
O parágrafo anterior, sem qualquer novidade, vale apenas para quem deseja refrescar a memória; o que se segue, porém, é novo.
José Eduardo Degrazia, gaúcho, porto-alegrense, é desses poetas que poderíamos chamar de autenticamente vocacionados. Embora pratique outros gêneros, é a poesia que constitui seu chão mais percorrido. Trata-se de uma longa carreira, com 16 livros e vários prêmios. Degrazia assume a poesia como sua maneira de ver e entender o mundo.
A Flor Fugaz, que Degrazia lança pela WS Editor em edição restrita, é uma reunião de sonetos. A permanência da forma-soneto é que lhe permite esse gesto. Lendo Degrazia, vemos que o soneto não apenas permanece, mas que terá vida longa, a pensarmos como no verso de Keats: “a thing of beauty is a joy forever”.
A Flor Fugaz é toda uma homenagem à poesia. O tom que percorre o livro traz-nos um assumido sabor arcádico, às vezes clássico, às vezes barroco, quando não romântico. Esse perpassar de estéticas, contudo, é marcado pela visão atual do mundo e assim, nesse ajuste e eras e psicologias, Degrazia constrói um universo de perturbadores contrastes, em que, de quebra, recupera o riquíssimo arsenal léxico da língua. Veja-se tudo isso num dos momentos mais altos do livro:
“Este soneto é como uma catedral / feita com altas torres e colunas, / finca suas bases sobre uma colina / e lança no céu suas góticas agulhas. // Nas ogivas altivas e na abóbada / vai ecoando o murmurar da prece, / do vapor dos turíbulos se evola / a chama ideal do sonho que perece. // Um cavaleiro medieval penetra / a fria imensidão da nave austera, / ajoelha-se no altar, sozinho espera. // A imagem da beleza se concentra / no coração profundo da quimera / e o cavaleiro triste, desespera”.
Eis uma antítese: a calma da catedral e o desespero do cavaleiro, dado a que o leitor só tem acesso no final. É um desespero sem causa, isso nos basta. É o desespero do homem de hoje. Eis a atualidade de um soneto. Eis a atualidade de um poeta. Leia A Flor Fugaz, atualíssimo – e belo.
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