sábado, 13 de agosto de 2011



14 de agosto de 2011 | N° 16792
VERISSIMO


Rosé Sarney

Vamos defender, pelo menos, o nosso jota, gente

Durante muito tempo me intrigou a quantidade de jogadores de futebol brasileiros chamados Donizete. Uma homenagem, imaginei, ao compositor italiano Domenico Gaetano Donizzeti, autor, entre outras, da ópera Lúcia de Lammermoor, mas mais conhecido pela ária Una Furtiva Lacrima de outra ópera, Lelisir dAmore.

Mas o nome pressupunha pais que admiravam a ópera, ou pelo menos sabiam das existência do compositor, o que era improvável. E mesmo que isto explicasse dois ou três Donizetes, não explicava uma geração de Donizetes.

Qual seria o mistério? Depois descobri que o homenageado era um padre do interior paulista com fama de milagreiro e uma multidão de seguidores. Eu nunca tinha ouvido falar no padre, que não sei se ainda vive, mas é ele o responsável pela proliferação de Donizetes, muitos dos quais se tornaram jogadores de futebol. Nenhum deles milagreiro.

Mas surgiu outro mistério no futebol brasileiro: o número crescente de jogadores com o nome Juan. E um mistério ainda maior: por que eles são invariavelmente chamados – por narradores, comentaristas, colegas, amigos e, presume-se, suas próprias mães – de Ruan? A pronúncia certa do “j” em português é o jota de “jujuba”. Se vão chamar os Juans de Ruans, por que não chamar Juarez de Ruarez e Jorge de Rorge?

Lembro que uma vez eu assistia a um noticiário da CNN sobre o Brasil e a pessoa que estava comigo se indignou porque o locutor se referiu ao nosso presidente na época como “Rosé Sarney”. Americano não tinha jeito mesmo, para eles do México para baixo era tudo a mesma coisa, só faltava dizerem que a capital do Brasil era Buenos Aires etc. etc. Mas na insistência em chamar o Juan de Ruan estamos imitando americanos desinformados. Vamos defender, pelo menos, o nosso jota, gente.

Enfim, nada de muito importante. Sou um ativista de pequenas causas.

Faz tempo

Lembro-me, não sei como (faz tempo, e eu ando vazando memória), que a qualquer jogada mais tosca em campo sempre havia alguém da arquibancada que gritava:

“Olha o recurso!”

Queria dizer que faltara habilidade, fineza – em suma, recurso – para o jogador,

Quando um time estava dominando uma partida e forçando o adversário a recuar todo para sua defesa, o grito inevitável era:

“Aluga-se meio-campo!”

E bola chutada para o alto, como um balão, além de demonstrar lamentável falta de recurso, provocava o grito em uníssono:

“Viva São João!”

Já se gritava palavrão na época, mas nunca faltava alguém na torcida que olhava em volta, preocupado, e a cada palavrão alertava:

– Olha as famílias...

Hoje, claro, as famílias gritam detalhes íntimos da vida do juiz em coro.

Quem diria

(Da série “Poesia numa hora dessas?!”)

O mundo gira, o mundo rola.

Quem diria, né?

O Tio Sam passando a cartola...

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